Salão de beleza ou divã?

Salão de beleza ou divã?

Suspeito que daqui há alguns anos as cadeiras dos salões de beleza serão inspiradas em divãs. Cabeleireiras têm o talento de fazerem as clientes contarem casos, rirem e até chorarem. Eu fui pela primeira vez hoje em uma e parecia que a mulher me conhecia desde a infância, tanto eu quanto ela falamos sobre várias passagens das nossas vida. Talvez o salão se assemelhe tanto a consultórios porque é o tempo que eu tiro inteiramente para mim. Fica difícil até de checar o celular, já que a mão, normalmente, fica de molho enquanto a cabeleireira faz a escova.

Aí há mais motivos para conversar no salão de beleza. Eu até tenho uma certa preguiça de salão, mas quando vou viro amiga de quem cuida do meu cabelo fácil. Hoje acho que a moça cuidou da minha cabeça também. Desde o início da semana que eu estava pra baixo. Sem contar nada para ela, falei dos motivos como se tudo estivesse ok, em tom de firmeza, como quem já superou tudinho. Ela fez o mesmo, falou das barras que já segurou e da nova fase em tom de “já passou”. Aliás, me fez rir bastante com os mais recentes acontecimentos. Eu não me incomodo de forma alguma quando o papo é sobre a própria vida no salão, pois cada uma fala o que julga ser conveniente. Fico chateada é quando começam a falar dos outros, o que não foi o caso da moça de hoje.

É por isso que os salões vivem lotados – além de a mulherada sair mais bonita encontra gente para conversar, algumas transformam-se até em amigas. Acho que mais do que a beleza, o que faz a expressão mudar é a liberdade de falar ou de ouvir conversas despretensiosamente. É terapêutico mesmo que elas estejam longe de poderem clinicar. A palavra salva, seja escrita ou falada. E se tem algo que a maioria das cabeleireiras sabem é conversar, arrancar alguns indícios do que me aflige ou me faz rir.

Fui lá para experimentar o serviço que é novo na vizinhança, mas com certeza voltarei. Pela qualidade da escova, da unha, do papo agradável e pela água de coco que ela me ofereceu. Sai mais arrumada e leve, arrisco dizer que até feliz. Aquela moça que já encarou poucas e boas, de gargalhada fácil como quem sabe que um sorriso é a melhor alternativa para seguir em frente nem desconfia, porém me ajudou muito mais do que com o meu cabelo.

 

E que vida a dela, coitada! Mas é claro que não vou contar. Outra semelhança com consultórios é não levar a história adiante, pelo menos da minha parte.

Escritor por Talita Camargos Veja todos os textos deste autor →

Talita Camargos é jornalista e flerta com a literatura, procura inspiração em conversas de ônibus, flores, familiares e amigos. Idealizou o Texto do Dia e publicou nos 365 dias de 2015 neste blog como desafio pessoal.

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