Pagar língua mostra verdades da vida

Pagar língua mostra verdades da vida

Pagar língua é uma daquelas leis da vida que me ensina muito. Por vezes, até gosto de fazer exatamente o contrário do que eu pensava, mesmo que inicialmente obrigada. Pagar língua abre meus olhos, desfaz preconceitos, amplia meus caminhos. Eu já quebrei muito a cara, algumas vezes com gosto. Já prometi nunca mais namorar uma pessoa da minha cidade, não só flertei, não só namorei, casei! Pago esta língua satisfeita hoje e quero ser convencida todo dia de que valeu a pena pelo resto da vida.

É por isso que quando me dizem para eu só falar no que eu quero ou nunca dizer nunca tenho minhas dúvidas se é um bom negócio. Eu profetizo meus desejos, porém de vez em quando falo:

“Tá doido? De jeito nenhum, isso eu não faço”.

Tempos depois vejo que a única alternativa é quebrar a promessa, deixar o vento levar minhas palavras e não me importo se o ouvinte do meu veto à ação me disser que jurei de pés juntos, quase ajoelhei para falar que não iria a um lugar, comeria algo, etc, pouco importa.

Entretanto, acontece o contrário também. Vou com sede ao pote, com a certeza de que estou prestes a realizar um sonho e de repente me descubro em um pesadelo dos mais tenebrosos. Outra questão comum é provar que certos estereótipos de vez em quando estão certos. Aí formo pós-conceitos, pouco sedimentados, sempre com uma brecha para que um acontecimento mostre-me o outro lado da moeda.

Parece que muito do que me faz realmente bem está longe do meu entendimento. Por isso, não deixo de traçar planos, porém estou sempre pronta para aproveitar a maré. Ajusto as velas, passo pelas tempestades do novo e sigo, como dá, nem sempre da forma pensada inicialmente. Deixar a vida me levar faz parte, só que não permito que seja por um tempo muito longo. Revejo meus planos, sempre na direção do sonho e aponto para a fé, remo, como canta Los Hermanos.

No fim, acredito que o importante seja evoluir com tudo, certezas, certezas desfeitas, sonhos e pesadelos, pouco importa se para crescer eu tenha que pagar língua.

Escritor por Talita Camargos Veja todos os textos deste autor →

Talita Camargos é jornalista e flerta com a literatura, procura inspiração em conversas de ônibus, flores, familiares e amigos. Idealizou o Texto do Dia e publicou nos 365 dias de 2015 neste blog como desafio pessoal.

Oi, o que achou do texto de hoje?

Você tem 7 comentários
  1. A Doiis at 13:42

    Mais um pra coleção de favoritos.
    A vida é mesmo cheia de surpresas não? Quer dizer, quem nunca se jogou em um sonho para depois descobrir que era pesadelo? Ou quem nunca jurou de pés juntos que não faria algo e as circunstâncias nos levaram a fazer?
    Nós, assim como todos, somos prova disso. Viver é realmente uma arte. Não dá pra esperar nada, só seguir, aprender e do jeito que der, ser feliz.

    http://www.adoiis.blogspot.com.br

  2. Hayanne Deise Lins at 17:03

    Achei muito engraçado o texto, porque acabei me identificando com ele. kkkk
    O povo diz sempre: nunca diga nunca. A minha avó me lembra: ” O que a boca fala, o corpo paga.”

    Mesmo com todas essas advertências ainda acabamos por falar que nunca faremos tal coisa, que nunca beberemos daquela água ou comeremos deste pão. Tenho um exemplo em casa, da minha mãe que não ia com a cara do meu pai, mas estão casados há 20 anos. kkkk

    Bjs

  3. Guia da Vaidosa at 2:57

    Muito bacana o texto! Nunca … lá vai a palavra nunca, HAHAHA. Nunca refleti sobre essa questão de pagar língua, aliás, até hoje não conhecia esse ditado. Às vezes é bom, às vezes é ruim, vai depender do contexto. Mas sim, usado para uma boa causa é MARAVILHOSO pagar a língua. E não vejo a hora de pagar a língua quanto a um vício que os meus pais cultivam, anos a fio. Espero, de alguma forma, receber uma surpresa.
    Beijos querida

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