O que a escola ainda não ensina

O que a escola ainda não ensina

Tenho visto muitos amigos comemorarem centenas de aprovações no vestibular, alguns que eu conheci na faculdade. Outros tantos a abertura de negócios que nada ou pouco tem a ver com o que estudaram. Há também os que trabalham em áreas bem diferentes das que pensaram e uns que não têm a mínima ideia do que fazer aos mais de 30. Profissionais que estão onde querem, mas o peso da dupla jornada pesou e agora o desafio é viver bem com um emprego apenas. Gente que se achou, gente que está perdida e os profissionais de coach aparecem como anjos salvadores.

Eu faço o que gosto, mas confesso ter andado errante com algumas nuances do mundo do trabalho. Saber fazer algo bem é muito pouco pra ficar feliz com o que se escolheu fazer. Gestão de carreira é bem mais que encontrar ou fundar uma empresa legal e nenhuma escola, pelo menos as que conheço, ensinam.

Eu aprendi teorias que nunca apliquei e um sem número de conceitos que de nada adiantaram quando estive diante dos meus dilemas de trabalho. É certo que cada situação é de um jeito, mas se disciplinas que abordassem plano de carreira, gestão financeira pessoal, meus pontos fortes e fracos de comportamento, eu me sentiria mais preparada quando os reveses profissionais aparecessem.

A própria descoberta do que se quer é conturbada. Rodeada pela pressão de um vestibular, a obrigação, quase sempre, de continuar os estudos depois do segundo grau. Sempre perguntam o que as pessoas querem, mas quase nunca mostram um possível caminho para descobrir algo tão importante. No máximo, testes vocacionais e feiras de profissões. É tudo bem superficial e rápido, o que leva a formação de pessoas perdidas com a profissão que escolheram.

Os que pensam terem acertado, como eu, em algum momento vão achar que fizeram tudo errado, pois amar o trabalho não significa uma carreira bacana. As dificuldades do dia a dia confundem até os profissionais apaixonados. Não as dificuldades em si, que são normais em qualquer trabalho, mas a falta de tato para lidar com elas.

Eu penso que no futuro as escolas ou pais terão que se antecipar a algumas situações. Será preciso se preocupar bem mais do que com a profissão, mas com as habilidades bem além das técnicas para que as pessoas possam se realizar. Talvez dar não só mais tempo e sim ferramentas de desenvolvimento, além de não ver as universidades como única opção de início de carreira. Até porque na verdade ela começa bem antes, dá pistas na infância, adolescência, de forma nebulosa, claro, por isso tanta confusão. É preciso saber como deixar tudo mais visível, formar pessoas e não profissionais apenas. Pessoas integrais, que tem espaço para tudo sem ser engolidas por expedientes e tormentas quer sejam profissionais ou pessoais.

Trocas de curso, ramo vão continuar acontecer, isto é natural porque a experimentação faz parte do processo. Mas eu acredito que podem acontecer de forma menos dramática, mais natural e com uma base melhor.

Escritor por Talita Camargos Veja todos os textos deste autor →

Talita Camargos é jornalista e flerta com a literatura, procura inspiração em conversas de ônibus, flores, familiares e amigos. Idealizou o Texto do Dia e publicou nos 365 dias de 2015 neste blog como desafio pessoal.

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