Mudar: Essência e faces desafinadas
Meu corpo me diz que sou uma versão inacabada de mim. O cabelo que quero manter mais curto insiste em crescer em bem menos que os três meses usuais que visito o salão. As unhas crescem ou quebram. As olheiras tomam conta do rosto se eu esticar a noite. Frequentemente precisam de disfarce.
É natural que eu mude de fora para dentro também. Afinal, será que faria sentido se eu fosse a mesma a vida inteira? Vejo mais problema em ser imutável por achar que mudar é regredir do que transformar-me. A vida muda toda hora, me cobra um preço alto em alguns momentos e ser igual o tempo todo é impossível, burrice.
Evoluir é o caminho natural. Mudo sem ver. Mudo por opção e custo a mudar porque às vezes é difícil, mas preciso, além de um desejo. E há quem veja a mudança como prejudicial. Ela em si não é. Quando se muda para pior realmente é regredir, pra melhor não, é sabedoria.
No fundo, o que busco é a mudança. Fazer melhor meu trabalho – ser mais altruísta, mais empática, amiga e boa comigo. Tudo exige que eu mude. E só não mudo quando não consigo. Porque não é tão simples assim, chega a doer, amargar, mesmo com um lado muito doce como já escrevi aqui.
Por isso eu apareço com várias faces e uma só cara, ou não. Mudar é natural, mudar é crescer, transformar-me em uma outra versão – melhor ou pior. A essência – o que existe de mais profundo – não muda, todo resto sim, nem que eu não queira. Cada minuto me transforma, sutilmente. Só vejo a mudança quando passa um tempo, mas ela acontece a todo momento.
É como se eu entoasse esses versos abaixo a todo momento.
Viver é afinar o instrumento
De dentro prá fora
De fora prá dentro
A toda hora, todo momento
De dentro prá fora
De fora prá dentro
A toda hora, todo momento
De dentro prá fora
De fora prá dentro
Às vezes eu desafino, porém eu quero é o melhor que há de fora pra dentro, de dentro pra fora, nem que eu desafine diante de todas as mudanças que querem me colocar no prumo.