Fotos de família: a minha história antes de nascer

Fotos de família: a minha história antes de nascer

Fotos de família em preto e branco, amareladas pelo tempo, em álbuns ou caixas da família: são livros sobre o início da vida antes de nem chegarmos aqui. Porque toda biografia,  começa com a história dos antepassados do personagem principal. Seja Paul MacCartney, Cazuza, Chico Buarque, os protagonistas nas primeiras páginas dos livros sobre eles são o pai, a mãe, avós e até bisavós.

É assim com quem é anônimo também. Talvez também seja o motivo pelo qual as fotos, depois que uma pessoa se vai, são muito mais preservadas do que objetos e roupas. Há quem tire da vista para doer menos, mas jogar fora é muito raro, nunca nem ouvi falar. Em algum momento vem o desejo de vê-las ou de mostrar para quem chegou depois que a pessoa se foi. Pois a história de vida de cada um é mais do que se viveu. É um DNA, passado e a trajetória de muitos outros.

A foto é tão importante para mostrar como tudo começou que a revelação de imagens dos momentos especiais, pelo menos os que acontecem com hora marcada, sobrevive aos tempos digitais. Casamentos, formaturas não escapam de registros fotográficos profissionais.

Cuida-se de congelar o instante para que os marcos da vida sejam imunes a qualquer falha de memória ou ausência física. Se não estivermos aqui para contar, alguém irá montar um quebra-cabeça com o que tem nas mãos. Quando a pessoa não está mais entre nós, somos capazes de imaginar histórias inteiras, viajar para uma época que já existíamos, mas ninguém nem sabia.

Eu sempre folheio as minhas primeiras páginas nos álbuns de família. Às vezes vejo novidades que há 20 anos eu não havia notado ou identifico expressões que só apareceram mais tarde no meu rosto. O tempo, e a genética, tem desses caprichos pra provar que a vida é bem do que a gente faz sozinho. A foto é ainda uma prova de quem ninguém existe por si só mesmo que se feche.

Por isso eu me preocupo em escrever a história para os que virão depois de mim. Mas não posso mentir, a tecnologia me deixou lerda e quanto às imagens há muitos capítulos a serem impressos. Escritos com luz até que estão, guardados em pen drives, HDs, CDs… Porém, o porta-retrato vai fazer um ano com a foto de um cachorro, está do jeito que comprei. Formei há seis anos e até hoje não tem uma foto no papel, do meu casamento, que foi há 3, só há registros nas redes sociais.

Vira e mexe penso em revelar, organizar em álbuns, largo para depois, pro mês seguinte, semana que vem. Aí as histórias que nem são só minhas se acumulam. Acho que vou dar um jeito logo de revelar a minha história e de quem virá depois de mim. Família é mesmo primeira pessoa do plural. Eu, na verdade, é sempre nós.

Escritor por Talita Camargos Veja todos os textos deste autor →

Talita Camargos é jornalista e flerta com a literatura, procura inspiração em conversas de ônibus, flores, familiares e amigos. Idealizou o Texto do Dia e publicou nos 365 dias de 2015 neste blog como desafio pessoal.

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