Para ler em dias ruins: carta  para mim mesma

Para ler em dias ruins: carta para mim mesma

Oi, Talita,

Não vou perguntar como você está. Sei que é um dia daqueles em que precisa relembrar que a vida é isso: “um atravessamento potente e frágil”, como disse o pastor Henrique no podcast Mamilos. Ele também falou que a beira do abismo não precisa ser sempre trágica. Também há vida neste lugar difícil, descobertas sobre si, boas séries, filmes, amigos com um ombro e colo para você. Lágrimas ajudam, mas não deixe que seu espírito, , quase sempre otimista, se afogue nelas.

Sou a Talita dos momentos bons e trouxe aquela que consegue continuar na luta quando a barra está pesada comigo. Mas elas não conseguem estar presentes o tempo todo, é normal, calma! Porém, as duas têm alguns recados para a Talita da Bad.

Seu pai disse que quando fica bolado com algo ele chupa um Halls preto e passa vagarosamente de um lado para o outro para acalmar. A tática, digna de mestres do mindfulness, arrancou-lhe boas risadas, mas que tal tentar fazer isso você também? Seu pai quase nunca se abate, ele recupera a força rápido, deve funcionar.

As outras Talitas sabem como você não consegue ignorar a dor do outro, que a emoção é grande parte de quem você é. Esse sentimento está sempre com todas as Talitas, da mais eufórica a mais angustiada. Quando as pessoas te descrevem não é raro citarem a sua sensibilidade, é essa pele fina que te faz colocar a mente e o coração no papel, na ponta dos dedos, em textos como esse. Então, não diga que você não quer ser uma pessoa emotiva, não seria você de outra forma.

A gente sabe, você reflete o tempo inteiro sobre o que acontece contigo. Passar pelas situações é pouco, é preciso mergulhar fundo. Mas lembre-se que o samba e o pagode elevam seu astral. Aliás, a arte de forma geral. Nesses dias, use sua intuição para saber se você está em condições de assistir aos dramas que tanto gosta ou se é melhor dançar “Fricote” enquanto frita seu omelete.

Dormir no horário certo também funciona. “Nada melhor do que um dia após uma noite bem dormida”, a Talita dos dias bons disse uma vez.

Ah, sei que é difícil, mas tente se mexer um pouquinho, nem que sejam 20 minutos de caminhada, você vai liberar endorfina, o hormônio do bem-estar. Comer mal, além de não resolver, te dá dor de estômago. Tem comidinha saudável gostosa. Se quiser comer algo que não seja fit, ok, só tenta não exagerar, viu?

E, menina, você sente-se revigorada após uma boa conversa. Liga para aquele amigo ou amiga, conversa com a Mel, sua irmã, eles sempre estão disponíveis. Até mesmo as entrevistas de trabalho te alegram, será que não tem uma demanda por aí que requer essa tarefa? Na falta de entrevista, reveja o trechinho da conversa com o Natã, o menininho disse que te ama! Vou deixar aqui embaixo para ficar mais fácil.

Que tal apurar mais uma história para o Inumeráveis? Te fortalece e ainda conforta quem tanto precisa. Outra coisa que pode ajudar é marcar uma terapia de emergência.

Pode ser que nada disso funcione. A gente não tem certeza do que faz a Talita da Bad ir embora e as outras, mais felizes, aparecerem. Mas já vimos você recorrer a essas atitudes. Em certos momentos deu supercerto, noutros não. Nesse caso, te digo uma verdade: faz parte do viver ficar assim, talvez você descubra outro jeito de se alegrar. Mas se não acontecer, isso também vai passar!

Qualquer coisa, acolha seus sentimentos, fique quietinha que as outras Talitas nunca te abandonam, elas sempre te resgatam desse lugar triste.

Escritor por Talita Camargos Veja todos os textos deste autor →

Talita Camargos é jornalista e flerta com a literatura, procura inspiração em conversas de ônibus, flores, familiares e amigos. Idealizou o Texto do Dia e publicou nos 365 dias de 2015 neste blog como desafio pessoal.

Oi, o que achou do texto de hoje?

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *