A idade da dúvida, será?
Existe a idade do por quê e a idade da dúvida ou negação, ainda não consegui definir direito. O que tenho certeza é de que estou nela. Tem nada a ver com crise de idade, aquela dos 30, idade que terei daqui a quase um ano. É que comecei a duvidar( ou negar) de tudo que me parecia bom, bonito, certo. Até mesmo os bonitões da época do colégio parecem ter perdido a graça. Não falo dos que engordaram demais ou permaneceram com o mesmo peso da adolescência, mas àqueles que mesmo mantendo o mesmo padrão estão diferente aos meus olhos.
Releio alguns livros e desconheço a magia que vi inicialmente. Chego a perguntar: “como já considerei esta obra genial?” ou nego: “este livro não era tudo que eu pensava”. Com os meus próprios textos acontece o mesmo, chego a ter vergonha de tê-los publicado. Por outro lado, vejo evolução. Alguns, que já me acompanhavam, afirmam que já eram legais.
Também joguei por terra muitos dos meus conceitos e preconceitos. Em resumo: não passo um dia sem pagar língua com gosto. Duvidei da minha forma de vestir, fico com vontade de me colorir de vez em quando, acho tudo que tenho no armário sem graça, bom mesmo era no tempo de hippie nada chique.
Pago língua, a torto e à direito, em toda esquina. Escuto músicas para acompanhar o tio, a família, decoro letras inteiras do que considerava de mau gosto. Dou com os burros n’água sem chorar. Troquei o “isso não podia ter acontecido” pelo “será que isso seria realmente bom pra mim?”.
Comecei a achar grana importante, mas continuei a acreditar que preferia que a humanidade não precisasse de nenhum tostão, nem de armas. É bem mais fácil apertar um gatilho do que dar pauladas ou facadas em alguém.
Abri mão de lutar por altos postos no mercado de trabalho para ter minha vida como quero. Mas vira e mexe faço o contrário do que é bom pra mim, pessoal e profissionalmente. Tenho aprendido a mudar na marra. Sangro, suo, duvido de mim, nego que tenho me tornado o que sou e digo sim para o que acredito que devo ser.
E se é a idade da dúvida ou eu não sei muito bem. Vivo a me perguntar, pois acredito que a única coisa que devo continuar a fazer é a usar os pontos de interrogação em vez de colocar ponto final em tudo, em afirmações que encerrariam as possibilidades das descobertas. E se tem algo que quero é um mar delas. Como diria Guimarães Rosa:
Eu quase que nada não sei, mas desconfio de muita coisa.
É desconfiando que descubro um mundão do que eu achava já conhecer. Sigo na dúvida, na negação, nos contrários de tudo que me pareceu certo demais.