Cuidado requer, sobretudo, amor
Babá, creche, escolinha… Hoje os pais e mães têm várias opções para ajudar na tarefa de cuidar dos filhos. No tempo da minha avó tudo que ela tinha era uma prole numerosa, dez filhos que cuidavam uns dos outros. Porque esta história de Amélia, do lar, passou longe da dona Rita. Era costureira das mais famosas nas terras de Ibitira, Pitangui e outros locais por onde passou. Fez-se ainda confeiteira, cabeleireira e tantas outras para ajudar a botar comida na mesa. Minha outra avó conta que era comum vê-la costurar e amamentar quase que ao mesmo tempo, era uma mulher deveras apertada de costuras. Assim, eram os dez irmãos que pajeavam uns aos outros na maior parte do tempo. Deu tudo certo, estão todos aí, sadios, fortes.
Quer dizer, certas vezes nem tão certo assim…
Alguns despencaram de árvores, um deixou o irmão bem menor perdido ao brincar de esconde-esconde no Centro de uma cidade grande e duas filhas provocaram um incêndio que os fez recomeçar. A inocência foi a culpada da maior parte destes incidentes, a meninada não podia imaginar que tanta diversão poderia acabar com gente machucada, sem saber onde estava. E olha que já aconteceu de nem depois de um desmaiar eles se darem conta de algo tinha dado errado.
Certo dia, a criançada passou a tarde brincando no quintal. Foi no alto de uma árvores, de galho em galho, que um deles se machucou. Quando voltaram, a dona Rita percebeu que estava faltando o Zé Luiz, àquela época com aproximadamente quatro anos de idade. Então ela perguntou:
– Cadê o Zezé?
– Ah mãe – respondeu um deles – ele caiu da árvore e dormiu. Nós chamamos e ele não acordou, então deixamos o Zezé dormindo lá.
Para a garotada o irmão tinha apenas adormecido ao cair, não parecia ser nada tão grave, de fato não foi mesmo, no outro dia lá estava ele aventurando-se nos mais altos galhos.
Outros adormecidos
Em uma outra tarde foi o Edmílson quem dormiu. O irmão, que o pajeava do alto do segundo andar de um sobrado, viu o irmãozinho cair da janela. Dessa vez nem teve como pensar que o garoto, com então dois anos, havia adormecido. O susto foi grande e a Ritinha nem conseguiu chegar perto de tão nervosa, foi o Alonso quem teve que acudir e graças a Deus tudo terminou bem.
E o outro filho, o Déio? Não, ele não dormiu, mas fez a dona Rita cair no sono quando mostrou um rasgo que fez na barriga, assim, de brincadeira. Também, os dois contam que feiura era pouco para definir o quão estranho estava o ferimento. Em vez de socorrer um tiveram que acudi-la dois.
Esconde-esconde no Centro
O Edmílson, o que caiu do sobrado, foi vítima da inocência de novo, desta vez de um pique-esconde no Centro de Divinópolis, a maior cidade na qual a prole da dona Rita e do Alonso tinha morado até então. O irmão Julinho, com 12 anos, resolveu se esconder na avenida principal. Conseguiu arrumar um esconderijo tão bom, mais tão bom que voltou para casa sem o menino. Ele foi de esquina em esquina e o pequininho não aparecia. Voltou pra casa, ficou caladinho até que uma vizinha bateu à porta deles.
– Eu acabei de ouvir na rádio que o filho da Ritinha e do Alonso está perdido, levaram-no pra lá. A única informação que ele conseguiu dizer além dessa é a cor da casa.
Só assim todo mundo soube da proeza do Julinho e foram mais do que depressa resgatar o menino.
Quando o encontraram foi uma alegria só e o Edmílson nunca tinha sido visto com olhos tão grandes, amedrontados. Com o tempo, os abraços da mãe e brincadeiras (desta vez menos perigosas), além da expressão do garoto voltaram ao normal. Era assim sempre, porque o clã da dona Rita era e é unido demais. Mesmo meio sem saber em algum momento, e com tantos acidentes pelo caminho, eles se cuidam, se ajudam, se refazem, se amam.
Como é bom ler o que vc escreve, volto a minha infância de brincadeiras, risadas, e peraltices e percebo como as crianças e jovens de hoje são diferentes e me vem uma preocupação, de que sentirão saudades….?
Também é muito bom ler seus comentários, Neusa. É uma companhia muito agradável, sempre. Obrigada! 🙂