Torcedor do América: um evento

Torcedor do América: um evento

Sair com meu pai quando ele veste a camisa do América Mineiro é um evento. O segundo time de todo mundo que mora em Minas transforma quem tem o Coelho no mais alto lugar do coração em ponto turístico. Uniformizado, meu pai é notado em todos os lugares. Nos tempos do Tupãzinho, herói da campanha que levou o América para a série A na década de 90, até confundiram meu pai com o jogador. Os dois tinham cabelo comprido, encaracolado. Estávamos em Goiás e quase pediram autógrafo!

Mais recente, em São Paulo, fizemos um tour esportivo. No Museu do Futebol, flagrei um homem fotografando meu pai. Depois ele falou que contou a um amigo mineiro, torcedor do América, que havia acabado de ver um americano. No Allianz Park um dos funcionários disse que era o segundo americano do dia por ali. Raridade, ainda mais na Terra da Garoa. Ou será que a torcida do Coelhão é bem maior do que imaginamos? Sobre tamanho eu não sei, mas em paixão pelo time eu garanto que a torcida é grande.

Ao longo do dia com meu pai mostrando o time do coração ele foi destaque. Uns falavam discretamente sobre a presença de um americano, outros alardeavam e até apontavam – “Olha, um americano!”. Quando publiquei as fotos dos passeios no Facebook, um outro americano comentou sobre o time, todo resto tornou-se apenas cenário, o ponto turístico era o meu pai, não o lugar onde estávamos.

Noto algumas manifestações típicas de times como Cruzeiro e Atlético tímidas quando meu pai fala do América. No entanto, são minoria. Quando alguém vê um americano uniformizado é carinhoso, mostra surpresa, porém com uma educação rara no futebol (área em que os palavrões servem como pronome de tratamento mesmo a amigos rivais).

Nos últimos dias, depois de o América subir para a série A, com certeza a camisa do Coelho foi vista mais por aí. Se meu pai estivesse perto de mim eu faria questão de sair com ele uniformizado. Além de se destacar na multidão, eu veria no rosto dele uma alegria que o futebol, sem o time conquistar nada, já existe pelo simples prazer de assistir aos jogos, sejam do time do coração ou não. Imagine agora como está radiante o meu americano preferido!

Escritor por Talita Camargos Veja todos os textos deste autor →

Talita Camargos é jornalista e flerta com a literatura, procura inspiração em conversas de ônibus, flores, familiares e amigos. Idealizou o Texto do Dia e publicou nos 365 dias de 2015 neste blog como desafio pessoal.

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