Sem parabéns

Sem parabéns

Eu não sei quando comecei a ficar tímida ao cantarem parabéns pra mim. O bolo de aniversário, as velinhas e principalmente a música têm o poder de me deixar vermelha e sem graça. Tenho até medo de passar a impressão que fiquei triste. Talvez seja a falta de costume. Lá em casa pouco comemoramos com bolo, guaraná e velas as passagens dos anos.

As parcas festas de aniversário que fizemos foram para pouca gente, minha mãe sempre levava a festinha para a escola. E lá, com os coleguinhas, era mais fácil ficar a vontade com a música que deixa as minhas bochechas rosadas, nem sei explicar o porquê ficava mais desinibida com eles.

A verdade é que sou tímida quando há vários olhos em  mim. A falta de jeito pode ser porque eu queira olhar para cada um e me perca na multidão que canta parabéns. Quando o parabéns é individual eu fico a vontade, consigo devolver o olhar, concentrar em cada palavra, dar atenção ao carinho que recebi.

Sim, eu me exponho muito, porém é porque todas as habilidades que desenvolvi até hoje me cobram isso. Mostrar os meus textos, por exemplo, é fundamental para eu sobreviver, literalmente. Entretanto, já tive fases de um silêncio  e uma guerra interna por querer guardar tudo pra mim, medo dos muitos olhos nas minhas crônicas, timidez pela exposição da maioria dos textos biográficos. Depois entendi que o que escrevo só é meu até ir para a tela, depois é de quem vê e se identifica. Tirei a atenção de mim e coloquei no trabalho final, quem merece o centro das atenções é a história, aí ficou mais fácil de mostrar.

Meu “problema” com aniversários é que não tem outra coisa para dar atenção,  sou o centro mesmo, está todo mundo com os olhos em mim. Por isso eu nunca quis ter festa de 15 anos, nem casamento tradicional, são muitos olhares. Mas eu gosto do carinho que recebo, sinto quando vem lá do fundo, adoro as ligações nesses tempos de aplicativos. É como se cada um cantasse parabéns de um jeito que me deixa bem a vontade, uma festinha para poucos de cada um. Como se me olhassem nos olhos e eu retornasse o olhar, mesmo quando o carinho vem de longe, virtualmente.

Escritor por Talita Camargos Veja todos os textos deste autor →

Talita Camargos é jornalista e flerta com a literatura, procura inspiração em conversas de ônibus, flores, familiares e amigos. Idealizou o Texto do Dia e publicou nos 365 dias de 2015 neste blog como desafio pessoal.

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