Qual o nome do filme?

Qual o nome do filme?

Aquela estava longe de ser uma madrugada como as outras. Ficar acordada até tarde era normal, rotina. Para se distrair, livros, filmes e os pensamentos que estavam longe de ser ruins, pois dormir fora do horário habitual era opção, além disso, Ana estava grávida da segunda filha. A gravidez deixava os planos mais doces e ela mais forte. A menininha, prestes a nascer, Rebeca, fazia companhia para ela, sentia a mãe acordada e rodopiava mais na barriga da mãe à noite. E naquela, em especial, estava agitada. Na TV, um filme que Ana pegou na segunda parte, um suspense destes que faz esquecer da vida. Aliás, no caso dela, quase, pois a bebê sinalizava que queria sair.

Ela sabia que eram mais que pulos, chutes…  Só que o filme estava bom demais. Era do tipo que parecia não ter um final previsível. O quebra-cabeça se juntava a cada minuto e não fosse pelo pensamento ágil da Ana, ela teria desistido de ver. Mas tudo que fazia a cabeça fervilhar a atraía. E foi por isso que ela falava para a filha esperar só um pouquinho. E na esperança que o trabalho de parto fosse demorar, aguentou enquanto pôde, até a penúltima parte do filme.

A medida que as dores aumentavam, ela perdia um pouco da firmeza dos olhos na TV, porém dava para acompanhar. Chegou um momento que não conseguiu mais. Com um grito de “mãe, vai nascer” nem desligou a televisão e foram para a maternidade. A ironia: o anestesista e o obstetra estavam com os olhos na TV, e saíram falando que no outro dia iriam até a locadora mais próxima para saber o final do suspense.

O parto foi fácil. Enquanto ela aguardava o desenrolar da trama, a dilatação aumentou. Nem precisou fazer força. Ufa, pelo menos essa vantagem de ter aguentado tantas contrações. E o nome do filme, a curiosidade pelo final? Ficou de lado, pois o rosto da filha era maior do que qualquer mistério. E os dias seguiram atribulados com uma recém-nascida em casa e a outra filha ainda pequena.

Na época, 1995, MS-DOS era o que havia de mais tecnológico. Internet, até a discada, era luxo. Hoje Ana se pergunta qual era o filme, já pesquisou na web e a última e desesperada tentativa será ligar para a emissora que ela titubeia em dizer qual é, o tempo apagou vários detalhes da história. O que nunca vai esquecer é da história do nascimento de Rebeca que ~dá um bom roteiro dessas séries de comédia.

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Talita Camargos é jornalista e flerta com a literatura, procura inspiração em conversas de ônibus, flores, familiares e amigos. Idealizou o Texto do Dia e publicou nos 365 dias de 2015 neste blog como desafio pessoal.

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