Oásis de consciência ambiental

Oásis de consciência ambiental

A vendinha com lanches e água mineral parecia um oásis no deserto. A combinação de um sábado quente, mais poucas sombras na rua e a obrigatoriedade de ter que esperar pela vez de prestar o exame de direção fez com que todo mundo, quase, fosse até a venda comprar uma água. A medida que o tempo passava, eu via mais gente com garrafas de água mineral na mão, disputando um lugar embaixo das raras sombras. E acaba que o tempo ali só deixa a alternativa de ter uma prosa com quem pouco se viu ou se distrair. Só que para quem precisa ficar lá o tempo todo, tudo se torna monótono. Eu levo um livro, mas  alterno entre conversar, observar, trabalhar e ler.

Em uma das conversas, uma mulher me falou sobre o quanto é chata com a arrumação da casa, que o cheiro do desinfetante é feito mirra para ela. Mostrou-se uma obsessiva com organização e limpeza. Só que assim que ela se despediu de mim não entendi por que deixou a garrafa de água mineral vazia, copos e sacola plástica esparramados. Ela não primava pela limpeza? A cena se repetiu com outros personagens. Conversei com pouca gente e as outras não me falaram como cuidavam de suas casas. Não duvido de que como a mulher com quem conversei. Ela não foi a primeira que vi zelar bem pelo espaço e na rua fazer tudo diferente.

As pessoas se esquecem que o mesmo incômodo que é causado em casa a quem mora conosco por causa das coisas fora do lugar pode ser provocado nas ruas. E a rua é de todo mundo. Não é obrigação só do poder público cuidar dos lugares comuns. Acredito que as pessoas não percebem que uma praça, um parque, uma praia e as ruas são delas também. E mesmo que não fosse, será que elas jogam lixo em casas que não são delas? Provavelmente não, pelo simples fato de conhecerem o dono, de ele poder falar mal dele e até a amizade arrefecer.

Na rua, o normal é que transitem desconhecidos ou pessoas difíceis de identificar. Daí, o anonimato legitima o que muitos dizem ser errado. E assim a rua fica tomada por papéis, garrafas. Esquisito é que essas pessoas reclamam dos dias cada vez mais quentes. Hoje mesmo o calor foi um dos assuntos, como é de se esperar entre tantos desconhecidos. Eu não me aguentei e disse que o problema nem era tanto o sol, mas a falta de árvores, pois na sombra fica bem mais suportável bastava ver em 3 minutos sem estar debaixo de uma. E completei – o povo ainda não tem educação, acreditam que o lixo que alguém vai recolher tem pouco ou nada a ver com a temperatura. Se tudo fosse pro lugar certo, fosse reciclado, impactaríamos bem menos o meio que vivemos. Teve gente que fechou a cara, porém teve quem pegasse a garrafinha no chão e fosse até o lixo.

Em tempos áridos como os nossos, zelar pela casa é esperado, em casa você tem até a opção de esperar um pouco para arrumar tudo no lugar, limpar, pois é um espaço “particular”. Já cuidar do mundo é dever, o tempo todo as pessoas usam as vias e espaços públicos, é um bem de todos e de ninguém. Nem adianta falar que a culpa da loucura do tempo é dos madeireiros, é também. Mas a gente também pode fazer muito e deixa se levar pela ideia de que a rua é a prefeitura quem deve limpar, o lixo é normal e o sol o verdeiro culpado de tanto calor. Encontrar água e sombra é tão difícil quanto consciência ambiental. A educação deve estar em algum oásis por aí.

Escritor por Talita Camargos Veja todos os textos deste autor →

Talita Camargos é jornalista e flerta com a literatura, procura inspiração em conversas de ônibus, flores, familiares e amigos. Idealizou o Texto do Dia e publicou nos 365 dias de 2015 neste blog como desafio pessoal.

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