O homem que só queria ver TV

O homem que só queria ver TV

Rômulo dava duro o dia todo, mal acreditava quando vencia o expediente. Ele só queria chegar em casa, tomar um banho, fazer um lanche e ver TV. Desejos muito simples se ele, um moreno, alto, forte, não tivesse um pequeno problema. A televisão funcionava como um sonífero.

O sono era tão poderoso que a mulher de Rômulo custava, em algumas noites, convencê-lo de que a cama era melhor que o sofá. No dia seguinte ele afirmava que nada tinha escutado, apesar de falar discursos inteiros com Marília. Eles nunca vão saber, porém os deuses do descanso realmente têm esse cuidado com os homens que tiram o pão de cada dia do esforço braçal. Ao chegarem em casa, basta encostar que eles pegam no sono – menos de um minuto é preciso.  Morfeu chega, abençoa e apenas na manhã seguinte é que eles acordam, cheios de disposição, bem-humorados pela manhã e carinhosos com as mulheres que sofreram para arrastá-los para um lugar mais confortável. Os Deuses do sono também pensam nelas.

Era assim com Rômulo. Só que ele estava longe de estar satisfeito. Tinha dia que o adormecer era tão forte que a luta para assistir aos vídeos pelo smarthphone acabava com o celular caído na própria face. Ele ficava encucado com aquilo. Nem aos jogos do time do coração conseguia assistir. Tomava café, energético e nada. Estudou todas as maneiras de espantar o sono, porém Morfeu sabia como aqueles horas de olhos fechados eram mais preciosas que o tempo em frente à TV.

Um dia, quando Rômulo estava de folga conseguiu ficar de olhos abertos depois de dormir algumas horas profundamente. Ficou tanto tempo dormindo que sonhou três vezes e meia. Estava tão acostumado a trabalhar durante o dia que pensou que havia perdido o horário de pegar serviço. Lembrou-se em alguns minutos que era dia de folga e veio a ideia: poderia finalmente assistir TV.

– Aaaaah não, é por isso que quero ficar acordado em vez de repousar? Só notícia ruim, frivolidades, esses pernas de pau em campo – concluiu depois de ver televisão de 2 da tarde até 10 da noite.

Foi só aí que ele entendeu porque a esposa preferia assistir ao tinha acesso via internet, escolhido a dedo. Depois disso, Rômulo nunca mais se arrependeu de cair tão profundamente nos braços de Morfeu, os sonhos eram bem mais interessantes do que qualquer novela, telejornal e o sono, ah, era do que ele precisava para trabalhar refeito no dia seguinte. 

Escritor por Talita Camargos Veja todos os textos deste autor →

Talita Camargos é jornalista e flerta com a literatura, procura inspiração em conversas de ônibus, flores, familiares e amigos. Idealizou o Texto do Dia e publicou nos 365 dias de 2015 neste blog como desafio pessoal.

Oi, o que achou do texto de hoje?

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *