O dia que carreguei a emoção da família

O dia que carreguei a emoção da família

Hoje carreguei a emoção de toda minha família: do meu pai, minha mãe, meu irmão e as minhas, que já são muitas. Surgiram numa destas ocasiões, a colação de grau da caçula da casa, que nunca são esquecidas e fazem a família inteira se deslocar para assistir. No caso, não deu. Tenho pai e irmão bem longe daqui e mãe que nos olha do céu. Eu fiquei alegre por poder representar os quatro, mas a emoção de uma família inteira não coube em mim: antes mesmo de começarem eu já estava chorando, eram lágrimas que se recusam ao disfarce.

Talvez a emoção do meu pai e irmão teria ficado só no orgulho e alegria sem choro se eles estivessem ali. Já minha mãe tenho certeza que choraria como foi na minha formatura ou até mais, pois hoje seria o choro bom do sonho completamente realizado: os três filhos com diploma na mão. Quando me formei, fiquei em dúvida se ela iria, por evitar lugares muito cheios. Ela venceu o pânico e lá estava com todo orgulho que os pais carregam e lágrimas nos olhos. Chorei o que eu e ela choraríamos, além do pranto saudoso, pois a saudade me acompanhou o tempo todo e nem preciso dizer o que ela fez comigo, desde a viagem pra chegar à UFMG até agora me pegou de jeito.

O relógio marcou menos de 10 minutos de solenidade. Foi uma colação sem canudo, beca, capelo, homenagens. Duas formandas apenas. Nem havia como chamar muita gente e certamente os que estavam ali por causa da outra formanda não entenderam porque tanta emoção, mal sabiam que eu chorava por quatro.

Na minha mente, soava a muda homenagem para os pais ausentes junto ao orgulho de ver a caçula da casa se formar.Saudade é assim, deixa com vontade de voltar no tempo e com a cabeça em parafuso quando é a falta do que nunca existiu que a traz.

Já cheguei a achar que o coração fica pequenininho por ter tanta gente longe e ficar tão sozinha em momentos marcantes, mas hoje descobri que fica é maior por poder celebrar junto com quem amo sonhos realizados.

Escritor por Talita Camargos Veja todos os textos deste autor →

Talita Camargos é jornalista e flerta com a literatura, procura inspiração em conversas de ônibus, flores, familiares e amigos. Idealizou o Texto do Dia e publicou nos 365 dias de 2015 neste blog como desafio pessoal.

Oi, o que achou do texto de hoje?

There is 1 comment for this article
  1. Madá Camargos at 1:39

    Como sempre brillante sua maneira de expressar! Parabéns para vc e para Melina! Sei do orgulho que proporcionam aos ” Julinhos”, e com certeza, mesmo tendo virado uma estrelinha lá no céu a Neuza se fez presente em seus corações!

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