Meus 20 e tantos anos

Meus 20 e tantos anos

São 22h de sexta-feira. Eu e meu melhor amigo, que não nos víamos há meses, estamos no show da banda Los Hermanos, em Belo Horizonte, nossa preferida. Aparentemente somos os mesmos, com uma ou outra diferença física, mas algo mudou muito dos tempos da faculdade para esta fase, dos nossos 20 poucos para nossos 20 e tantos anos. Proponho de irmos à Praia da Estação no sábado, ele concorda, diz que sempre teve vontade de ir, porém sempre adia e apesar do desejo de ir pode ser que o desânimo por ter saído no dia anterior o faça desistir.

Entretanto, é mais certo que vamos. Afinal, a Capital dos Mineiros está quente demais para nos trancafiarmos em apartamentos e nossa amizade merece ser celebrada como nos velhos tempos.

Ops, eu disse velhos? Talvez novos tempos seja uma denominação mais plausível. Fosse nos idos de 2007, 2008, teríamos emendado o show com a aula de sábado na PUC e quem sabe uma cerveja no bar do Bim para começar as farras de sábado? À tarde não dormiríamos necessariamente e à noite algum inferninho nos aguardaria. Provável que eu, Gu e companhia seríamos os últimos a sair da boate e em seguida nada de táxi, mas uma saudável caminhada até a nada saudável lanchonete Janaína, na rua Bahia, para repor as energias antes de pegarmos o ônibus.

E o que houve no sábado de sol intenso em BH? Desistimos de sair. O Gu alegou “bambor” nas pernas, falta de ânimo, ressaca de cansaço, pois não tomamos uma gota de álcool, só pulamos feito pipoca no show. E eu, o que fiz para aproveitar meu sábado fora de casa, o que é raro?

11h33 – Acordei
12h – Desisti de ir à praia

12h13 – Combinei de ir ao teatro com minha irmã e depois assistir a uma amiga dela tocar em uma pizzaria no Santa Tereza, bairro que mais gosto da cidade

19h – Descobri que precisaria pegar dois ônibus para chegar ao destino, motivo suficiente para desistir

22h – Estava sentada no bar da esquina com um grande copo de suco de laranja sem açúcar e um lanche

23h30 – Já estava em casa

Eu não sei explicar quando perdi boa parte do meu ânimo. Uns podem dizer que é o casamento, o excesso de trabalho. Infelizmente, ou felizmente, a explicação mais comum não se aplica. O Gu, meu amigo que desistiu de sair também, é poucos dias mais velhos que eu, solteiro e sente os mesmos sintomas. Idade pode ser, mas nem todo mundo é afetado. Meu pai, que hoje tem 60, nunca foi atingido por estes males que parecem vir com os anos; nem minha avó de 91, a caminho dos 92.

O certo mesmo é que não considero isto de todo ruim. Eu só fiquei mais seletiva com os programas, pois sei que não aguento maratonas mais. O bom é que descobri o sabor de dias mais quietinha. Os 20 e tantos anos trouxeram para mim mais calma, menos percalços porque não estou disposta a tudo. Só ajo com meus 20 e poucos quando viajo para lugares que ainda não conheço porque a vontade de aproveitar tudo quanto for possível é grande. Minha estada finita me devolve o ânimo, a vontade de sair, pelo menos durante o dia, hehehehe, pois se for um programa noturno, badalado, sou bem capaz de curtir uma boa noite de sono para aproveitar a luz do dia de novo.

Escritor por Talita Camargos Veja todos os textos deste autor →

Talita Camargos é jornalista e flerta com a literatura, procura inspiração em conversas de ônibus, flores, familiares e amigos. Idealizou o Texto do Dia e publicou nos 365 dias de 2015 neste blog como desafio pessoal.

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