Mãe d’ouro

Mãe d’ouro

Era uma noite escura em que o medo aparecia em cada árvore do cerrado e no meio do eucalipeiro que dividia espaço naquelas terras. Três jovens, uma moça e dois rapazes, Luís, José e Lúcia, tinham que ir da fazenda à estação de trem de Ibitira. Lúcia tinha que pegar a Maria Fumaça para Pitangui visitar uns tios.

O que espantava a agonia de estar na escuridão era a vontade de chegar rápido e as orações que os três entoavam juntos. De tanto rezar ficou mais claro, uma ajuda parecia ser enviada dos céus. Uma grande esfera iluminada apareceu na estrada. Devia ser de Deus depois das ave-marias, Pais Nossos e pedidos insistentes de proteção. Ela foi serpenteando o caminho e encantou o trio.

Em um ponto do caminho a luz parou. Os três, com a certeza de que ela os ajudaria, pararam juntos e começaram a conversar com a luz pra que ela seguisse, não faltava muito pra chegar à estação. A luz insistia em ficar ali. Parece até que se agitava para tentar mostrar algo. Começou a girar, ir para cima e para baixo. José teve a ideia de olhar melhor no entorno. Afinal de contas, uma luz que apareceu para espantar o medo só podia trazer o que era bom pra eles.

Procuraram entender o que a luz queria quando viram um balde desses de metal cheio de pedras. Pedras bonitas, douradas. Pegaram-nas e seguiram em direção à estação. A luz continuou a balizar o caminho até que chegassem aonde haviam clareiras maiores. Eles rezaram em agradecimento pela proteção e por terem pegado aquelas pedras que ainda não sabiam do que se tratava, porém imaginavam ser importante. José dizia que o que quer que fosse, saberiam o que fazer com elas.

Mas não souberam, pobrezinhos. Ao chegar à estação, três homens com terno cresceram o olho no balde. Pediram as pedras para José, Luís e Lúcia. Disseram que iriam levar para um laboratório e que em breve voltariam para contar que pedras eram aquelas.

Eles entregaram, acharam que era um sinal. Os homens nunca mais apareceram ali. Lúcia, muitos anos depois, viu os três ricos na televisão. O repórter contava como eles passaram de pobres aos mais ricos do Centro-Oeste mineiro depois de encontrar um balde cheio de ouro. Lúcia, em uma casinha simples, ficou triste, pensou no quanto saber que eram valiosas as pedras poderia ter mudado a vida dela e dos amigos.

À noite, quando fechou os olhos, sonhou com aquele dia e quando acordou mudou de ideia. Tornou a agradecer a aparição da luz que a guiou e tirou o medo. Entendeu porque a ela tinha dois nomes: Luz Santana, que vem de Santa e Mãe d’ouro, por indicar onde pode-se achar ouro.

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Talita Camargos é jornalista e flerta com a literatura, procura inspiração em conversas de ônibus, flores, familiares e amigos. Idealizou o Texto do Dia e publicou nos 365 dias de 2015 neste blog como desafio pessoal.

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