Intempestivo caminho do equilíbrio

Intempestivo caminho do equilíbrio

Nem o chão nem o céu, resolvi buscar o que há entre eles para ter uma vida mais tranquila, longe dos 8 ou 80. E assim descobri que o equilíbrio não é um estado tranquilo, fácil de conseguir, o céu na terra. Como em uma balança, mais ou menos um pouco além do necessário é suficiente para ela pender, deixar de estar com o mesmo peso dos dois lados.

O equilibrista do circo faz um esforço danado para ficar sobre a corda. Balança, fica tenso em alguns momentos, alguns precisam de algo nas mãos como guia para o corpo ficar exatamente no lugar certo, equilibrado.

Com o tempo ele até consegue ficar onde tem de estar com um sorriso no rosto, mas no início é difícil se equilibrar. Eu ainda faço careta na corda bamba que preciso dominar para ter uma vida equilibrada. Divido meu tempo entre várias atividades que penso não poderem esperar, compro comidas saudáveis sem abrir mão de saborear o que há de melhor com os amigos no final de semana. Com o meu parco dinheiro tento o equilíbrio também, às vezes a conta fecha, noutras não.

Se fosse equilibrista de circo teria ido ao chão algumas vezes. Ah, quantas vezes eu passei do horário de trabalho? Também excedi em alguns percursos de corrida. Vieram as dores do excesso dos dois e de muitas outras ocasiões em que passei do recomendado, em que perdi a mão no preparo de um dia equilibrado.

Eu ficava muito triste porque me considerava incapaz de ter uma vida equilibrada ao ir para os extremos. Mas entendi há pouco tempo que mais importante que equilíbrio é levar com leveza as vezes que as coisas saem dos trilhos. Quem consegue compartimentar tudo igualitariamente é uma máquina, não um ser humano. E meus excessos me ensinam muito.

Quando caio aprendo como conseguir ficar na corda bamba em que o equilíbrio mora. Descubro o que me derrubou, nem sempre da primeira vez, em alguns casos demoram umas dúzias para eu saber o que tirou minha concentração para ficar em paz.

Quem está em equilíbrio está sempre por um fio, um movimento em falso e corre o risco de cair. É um caminho intempestivo, mas que pode ser leve. Tento a cada passo devagar de uma equilibrista encontrar a melhor forma de estar no mundo. Caio, aprendi a rir das quedas, daí já levanto com um sorriso que me fortalece.

Escritor por Talita Camargos Veja todos os textos deste autor →

Talita Camargos é jornalista e flerta com a literatura, procura inspiração em conversas de ônibus, flores, familiares e amigos. Idealizou o Texto do Dia e publicou nos 365 dias de 2015 neste blog como desafio pessoal.

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