Tristes coisas da vida

Tristes coisas da vida

“A vida é assim mesmo. Do que adianta reclamar? Aceita, isso é natural, não dá pra mudar, nem há o que fazer”. É, dá não. Engulo o choro ou desabo. Rezo, peço forças ou xingo. Tudo para no final concordar de que sim, são coisas da vida e discordar, pois há  muito a fazer sim. No final, (ou será início?), minha cabeça está as voltas e extrapola para o corpo, não aguenta. Essas irremediáveis coisas da vida me dão dor de cabeça, nas articulações, nos músculos.

Fico de frente pro medo, pras minhas inseguranças, fantasmas que estar quietos nos lugares mais profundos bem diante dos olhos. Dizem que tenho que aceitar e nessa aceitação fica implícito um “mantenha-se firme, alegre, leve”. Eu tento. Firme consigo na maioria das vezes, leve também, porém a minha alegria é uma ponte estreita e frágil quando as coisas da vida, essas que não dão pra mudar, insistem em passar por ela. Eu teimo em voltar a ficar bem rápido, entretanto me impedir de ficar triste por um dia, um minuto ou até meses é bobagem. Parece um crime, quase, logo vêm com remédio, álcool e outras drogas lícitas.

Entretanto, algumas tristezas só vão por completo quando as chamo pro mano a mano, mostro quem sou, minha força, que ela só vai embora depois de me dizer a que veio. E após eu arrancar dela o que tanto quer de mim, mando pra longe. Pode até me rondar nos meses, dias seguintes, mas nunca conseguirá me abater como nos momentos iniciais.

As tais coisas da vida são um modo de dizer que não sou dona do mundo, que a vida é igual pra quem é bom ou ruim – desastres podem acontecer com os melhores ou piores. O tempo inteiro, quase, vou contra a corrente, a natureza – acho que todo mundo vai – controlamos o que podemos. O cabelo, a unha, um caminho, tudo que posso interferir me dá uma sensação de poder, segurança, falsa, mas segurança. Daí, quando vem doenças, reprovações, decisões finais que pouco ou nada dependem de mim e a tal da morte o que me resta é resolver os embates que as tristes coisas da vida provocam.

Não há o que fazer? Tem, e muito – dentro de mim há mundos inteiros! Só os indiferentes, quem nada sente  é que fica totalmente seguro. Uma pessoa normal se arranha, sente dores, se entristece para só depois ficar bem mais forte.

Escritor por Talita Camargos Veja todos os textos deste autor →

Talita Camargos é jornalista e flerta com a literatura, procura inspiração em conversas de ônibus, flores, familiares e amigos. Idealizou o Texto do Dia e publicou nos 365 dias de 2015 neste blog como desafio pessoal.

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