Caminhos da amizade

Caminhos da amizade

Difícil recordar quem foi meu primeiro amigo. Se não fossem as fotos seria impossível. Lembro de algumas histórias que meu pai e minha mãe contavam, eu ficava com vários colegas e uma babá enquanto eles saíam para trabalhar. Uma imagem se repete nos álbuns,  eu e um menino mais ou menos da minha idade, Daniel. Dos outros nem eles dão notícias.  Isso foi nos Estados Unidos, eu voltei muito pequena e ele está lá até hoje. Nunca mais, nem por foto e redes sociais, o vi.

Nosso distanciamento foi natural,  como é normal perdermos de vista os amigos da infância, adolescência, faculdade ou vida adulta… Complicado é entendermos que faz parte que eles desapareçam e, ao mesmo tempo, se encontrem em outros horizontes. Acredito que temos dificuldade de entender porque queremos aquelas conversas, carinho e passeios que nos fizeram tão bem um dia para sempre. Porém, os caminhos são quase sempre diferentes.

Verdade que alguns poucos nunca se mudaram da minha terra natal,  mas mudaram com os anos. Outros percorreram o mundo e ainda têm a mesma sintonia que eu. Basta nos esbarrarmos que a prosa invade a tarde e a pessoa passa a ser minha confidente como se nos víssemos todos os dias. E ela vai embora, como deve ser, com todos os meus segredos e parte de mim.

Assim me sinto um pouco sozinha ao ter que enfrentar a vida de gente grande. O mundo do trabalho não é como os tempos da escola. Não sei se são as metas e todas as faces cruéis do mundo corporativo, sei que quando estudante,  principalmente nas fases iniciais, eu fazia muito mais amigos. Talvez por isso eu me sinta mais só quando o expediente terminava do que quando o sinal avisava que a aula tinha chegado ao fim. Hoje entendo que é mais difícil criarmos laços, boa parte da ingenuidade se perdeu com o tempo. Ficamos mais seletivos, desconfiados….

Já fiquei triste, mas agora entendo que sou mais sozinha por não ter companhia para brincar na praça ou tomar um lanche sempre, porém não sou solitária. Toda essa gente que um dia não desgrudava de mim ainda faz parte de quem eu sou. Embora eu tenha tentado deixar alguns mais perto sem conseguir, percebi que é a frequência que no momento não é a mesma. Talvez algum dia voltemos a nos ver mais. Nem assim acho que foi em vão,  eu tive amigo que conviveu comigo por um dia, anos e outros que seguem por perto desde sempre.

Ouvi falar que amizade é o amor que nunca morre e é mesmo. A presença é que nem sempre é possível, os calendários são diferentes. Mas toda entrega, palavras, brincadeira e programas foram verdadeiros. É a saudade quem vive dizendo isto pra mim.

Escritor por Talita Camargos Veja todos os textos deste autor →

Talita Camargos é jornalista e flerta com a literatura, procura inspiração em conversas de ônibus, flores, familiares e amigos. Idealizou o Texto do Dia e publicou nos 365 dias de 2015 neste blog como desafio pessoal.

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Você tem 3 comentários
  1. Guia da Vaidosa at 22:07

    Nossa, que texto lindo! Eu me identifiquei profundamente. Só que desde pequena já passava por essa sensação – incômoda, talvez – de solidão. Fui uma criança com poucos amigos, uma adolescente com poucos amigos, e uma jovem adulta com pouquíssimos – quase raros – amigos de verdade. Mas lido muito bem com isso tudo, até prefiro. Não desgrudo da minha família, e foco no que realmente faz o meu coração palpitar: sede de conhecer e de trabalhar.
    Beijos querida

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