A tristeza de fazer parte da legião de ansiosos

A tristeza de fazer parte da legião de ansiosos

Muita gente enche a boca para dizer que é ansioso, como se fosse uma vantagem, eu sinto vergonha de ter que admitir que sou uma ansiosa diante de todas as tentativas de viver com leveza. Às vezes tenho a impressão de que muitos usam o estado como desculpa – para justificar o ganho de peso, não ter sido aprovado em um exame e por aí vai. Ao mesmo tempo acredito que há uma legião de ansiosos mesmo, da qual infelizmente faço parte.

Tenho meus meios, nem sempre eficazes, de controlá-la – escrevo, respiro fundo, saio de casa sem rumo para dar uma caminhada, abro uma cerveja 9h da manhã de uma segunda-feira, tomo um fitoterápico pra relaxar.

Às vezes funciona, às vezes sou atropelada mesmo.

É como sonífero quando a fonte da ansiedade é algo ruim, preocupante, e principalmente se resolver o que preciso estiver na mão de outra pessoa também, não depender 100% de mim. À ansiedade, no meu caso, ainda soma-se outro ingrediente: o quanto sou sentimental, fórmula certa para explodir – sentimentalismo + ansiedade. Choro e fico triste demais, o restante do que eu tinha que fazer fica de lado, ou é feito com menos entusiasmo, porque eu simplesmente não consigo levar adiante. Minha vontade é largar tudo e mudar para a praia viver de brisa, pois ficar acordada é um sofrimento em crises de ansiedade aguda. Dormir é que é bom mesmo, a menos que eu tenha um pesadelo, o menor dos problemas durante um ataque ansioso.

Eu levo meus dias de maneira bem leve, quem me conhece sabe que não tenho frescura e relevo muita coisa, mas quem não tem pepino a todo momento para resolver, né? Uma hora pesa e se é de algo muito importante me faz explodir mesmo. As crises não são frequentes, mas de vez em quando inevitáveis, quando vi já tomou conta da minha cabeça e do meu corpo todo. A frequência, embora baixa, é suficiente para eu não querer sentir o que a ansiedade me traz nunca mais.

Ansiedade “feliz”

Mas ela não vem apenas quando preciso resolver um problema. Estar feliz demais, com expectativas boas, também me atrapalha. É como energético se o motivo for bom, por eu estar concretizando algo, minhas horas de sono ficam resumidas. Daí, quando passa, desabo. Embora uma tenha uma razão ruim e a outra boa, nenhuma das duas é legal, ambas me deixam numa corda bamba na qual é muito complicado me equilibrar.

Para ficar bem preciso de dias normais, nem ruins, nem muito bons. Eu não quero viver o tédio de me conformar com o básico, por não poder ficar feliz demais, nem ser alguém que acha que tem que dá conta de tudo – muito menos uma pessoa que se desespera diante dos problemas que não são só meus.

Vou arrumar um meio de conseguir manter minha sanidade diante da vida como ela é: com dias bons, ruins, problemas que consigo resolver e outros que vou ter que depender da boa vontade alheia.

Escritor por Talita Camargos Veja todos os textos deste autor →

Talita Camargos é jornalista e flerta com a literatura, procura inspiração em conversas de ônibus, flores, familiares e amigos. Idealizou o Texto do Dia e publicou nos 365 dias de 2015 neste blog como desafio pessoal.

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