Uma menina que se descobriu princesa
Maria é da cor de ébano, tem 10 anos, e ainda não sabia que era princesa e heroína. Linda, esperta, terna – mas enfrenta dificuldades de fazer o que é simples para boa parte das crianças sozinha, partir a própria comida, por exemplo, porque não tem a mão como a dos outros.
Porém, o encanto, às vezes confundido com poder, não é menor, pois basta olhar dentro dos olhos amendoados para ter que vê-la sempre, é hipnótica. Quando solta a voz para cantar ou falar, o ouvido também torna-se dependente dela.
Mas como Aquiles, há pontos fracos, a mão é um dos calcanhares de Maria – um misto de princesa com superheroína. E por causa dos superpoderes hipnóticos, ter quem a empodere, e a torne mais dona de si, é fácil. Também são superheróis anônimos, que quase ninguém vê – terapeutas ocupacionais. Maria queria muito poder comer sozinha, pois muitas outras menininhas de 10 anos partem a comida e conseguem comê-la.
Os outros superheróis lá foram ensiná-la. E para tornar a menina princesa mais poderosa em menos tempo, decidiram armá-la, como uns têm escudo, outros anéis, capas e por aí vai. Então, para ela produziram uma órtese – acessório para ajudar nos movimentos – em uma luva de princesa. Foi aí que ela se descobriu.
– Uma luva de princesa com poderes de minions!, exclamou com a boca em O e os olhos ainda mais amendoados.
– Sim, você é uma princesa e heroína. A luva não é mágica, você vai aprender como ativar seu poder de partir suas comidinhas daqui a uns dias com ela e vai poder fazer muito mais com a luva – explicou um dos responsáveis pela órtese.
Bastou para ela começar a cantar:
– Livre estou, livre estoooou… – como Elsa.
Reconheceu-se princesa pela primeira vez e enquanto cantava ninguém conseguia parar de escutar. Ao mesmo tempo que Maria cantava ela pensava qual seria a própria trilha sonora, pois estavam dando a ela instrumentos para ter mais autonomia, ser dona da própria história.
Maria é o exemplo de que toda menina pode mais e sempre tem superpoderes independente das condições, pois superheróis só são reconhecidos como tal quando vencem seus medos, suas limitações, não por serem perfeitos. E para vencê-los por vezes é preciso ter mestres, capas… Para heróis da vida real, órteses, terapeutas ocupacionais, médicos.