Um tipo de sabedoria pouco comentada
Vejo um monte de gente que luta para continuar a conseguir fazer o que era natural na juventude. É sábio se exercitar, talvez até tomar suplementos para continuar forte quando a idade, inevitavelmente, torna algumas tarefas mais difíceis. Porém, é ainda mais sábio se adaptar sem parar. É assim que minha avó, aos 74 anos, faz. Dona de um sítio do qual ela cuidou praticamente sozinha, os bichos começaram a ficar mais difíceis de tratar.
Só que ela não queria vender que o sítio, nem vê-lo sem bichos. Sabe o que ela fez? Diminuiu a quantidade e tamanho dos animais, de forma que até sobrasse um tempinho depois do almoço para assistir ao jornal e dormir. O serviço continuou a ser de segunda à segunda, mas menos intenso, proporcional ao que ela consegue, que ainda é mais do que muito jovem dá conta. E nem pense em propor de ela se mudar pra cidade, não quer de jeito maneira perder a tranquilidade da roça e companhia dos bichos.
Acorda cedo, tira o leite das vaquinhas, cuida da horta, faz queijo e tira longos cochilos. Em uma fase da vida que ela pode fazer o que quiser, optou por diminuir o ritmo, parar, segundo ela, só quando a vida a obrigar.
Sábia, ela. Se continuasse em um ritmo que não é compatível com ela, certamente sofreria as consequências de ter que repousar por causa das dores de um esforço que ela nem precisaria mais.
Sabedoria é, em parte, isso: se adaptar para poder fazer mais e principalmente o que se quer. Querer aguentar cargas sempre pesadas é burrice. Melhor sentir no corpo e na mente os benefícios de ter diminuído do que os outros ficarem admirados com a “falsa força”. Até porque uma hora a cobrança do que se exigiu virá.
É bonito admitir que não dá mais. Sinal de humilde, humanidade. Mais que belo, é sábio. E mais ainda dar um jeito de ser, da forma que dá, o que sempre foi a vida toda, mesmo que de uma forma diferente.