Terra Natal: ampla viagem
Ir para a Terra Natal é mais e menos que uma viagem, embora sempre ampla. Mais porque me redescubro todas as vezes que chego em Ibitira. Menos pois é de fato uma viagem, porém dessas tão comuns e repetidas que é estranho falar que vou viajar. Gosto de usar a expressão “vou pegar o caminho da roça”, de tão comum que é. Já relaxo só de pensar na calmaria da minha casa, nos rostos conhecidos, da certeza de ver apenas um ônibus, poucos carros e motos na cidade. É diferente de quando vou a uma cidade desconhecida ou que já conheço e quero regressar para conhecer melhor. Conheço bem Ibitira, como a palma da mão, e desconheço. Dizem que nunca muda, mas quando chego, percebo que sim, muda uai!
Pelo tamanho, eu poderia dizer que sou capaz de passear pela cidade em menos de uma hora. Cresceu sim, houve um tempo que os porcos conviviam como cães com a população (pensa só). Uma época que eu andava de bicicleta toda tarde em uma rua poeirenta, cor de sangue. A terra vermelha, em uma das principais ruas, foi coberta por asfalto e lá eu passeio a pé hoje. Custo a usar o meio de transporte mais popular de Ibitira, a bike, só mesmo quando passo mais dias, com certeza nesta pouco mais de uma semana que estarei lá vou dar umas voltas. Agora existe um banco, mais casas, sinal de celular.
A paisagem mudou. Cidades, por menores que sejam, são vivas, como o povo. Estão em constante transformação, para o bem ou para o mal. E lá eu também encontro o que nunca muda – minhas raízes, as mais profundas, as minhas memórias. Como eu costumo dizer, seria muito ruim se me proibissem de ir lá. Viajar para Ibitira é bem mais que uma viagem e ao mesmo tempo menos.
Grandiosidade da viagem à Terra Natal
É uma grandiosa viagem por me lembrar sempre de quem eu sou – a menina de pé vermelho que dali saiu cheia de sonhos um dia e certamente continua com muito a realizar. Grandiosa porque me lembra da delícia da comida caipira, da casa sempre minha, da minha mãe, do meu pai e dos meus irmãos. Grandiosa porque me lembra que pode-se dizer “opa, boa?” – “opa, bão?” pra todo mundo que se vê na rua, por mais que não se saiba, ou lembre o nome. Em Ibitira, quase não escuto “Bom dia” e o “opa, boa?” soa bem mais sincero.
É menos que uma viagem por ser logo ali, meu caminho da roça de sempre. É como se eu ainda morasse lá porque me importo com tudo que lá acontece, como se vivesse em Ibitira, como se fosse cidadã do lugar, moradora. E sou, um pulo, uma folga e é pra lá que vou, sem dúvidas. Terra Natal talvez seja a maior expressão que há – por me ampliar em todas as viagens que faço para lá, mesmo quando o trajeto é feito em pensamento.