Tatuagem: a marca que quero ter na velhice
O avançar dos anos trará rugas, deixará minha pele mais flácida e aumentará minha coleção de cicatrizes. Se pudesse, muita gente recusaria ter essas marcas na velhice. Porém, existe uma marca opcional: a tatuagem. Dentre tantos sinais sob os quais tenho pouco controle, surgiu um que o homem criou com tinta e arte.
Estranho é o argumento de que tatuar não é legal porque na velhice os traços vão ficar deformados. Para mim, a tatuagem passa a fazer parte do corpo e como ele sofre os efeitos do tempo. E mais que ficar no corpo, as histórias dão um jeito de ficarem gravadas no homem. Assim como as tatuagens, as rugas, olheiras, pés de galinhas e manchas são esculpidas com o que fiz de mim. Nem sempre gosto do que vejo, mas tudo é assim, obedece leis da vida e não minhas vontades.
Por isso mesmo é que acho tatuar um ato de liberdade. Deixo marcado no corpo para sempre o que realmente quero, escolhi. Claro que é preciso ter calma para escolher, apagar é bem mais penoso. Eu deixei o desenho guardado por anos só para ter certeza que quero que meu passarinho multicolorido para sempre. Ele vive em mim há uns anos e nunca me cansei dele. De vez em quando ainda me vem a vontade de desenhar mais sobre a pele, porém ainda não me convenci de uma segunda arte. Desconfio que nos próximos anos gravarei mais alguns traços, os únicos que realmente posso escolher.
Quanto às rugas, aprofundamento das olheiras e outros sinais eles vão chegar quer eu queira ou não. Daí, só me resta, mais que prevenir, preparar o espírito, parte que pode ou não acompanhar o passar dos anos, ficar mais doce ou duro. Sempre preferi o caminho da serenidade. Além disso, é a jovialidade é que vai me dar personalidade para ser uma velha tatuada, ou melhor, uma pessoa que envelheceu com tatuagens, pois antes de ser criança, jovem ou idosa sou humana e não me amarro à fases da vida presentes ou futuras para decidir o que fazer.