Somos reticências…
É difícil entender porque as pessoas têm a mania de resumir as outras, ou até de resumirem-se. Normalmente, a explicação, se escrita, não ocuparia nem três linhas. Quando dizem: como ela é? Pega-se o primeiro rótulo evidente – Emo, Roqueira, Hippie ou Chique e assim termina a explicação sobre como é a pessoa. Só que ser gente é grande demais, uma palavra não dá conta de uma pessoa. Em um dia eu sou filha, esposa, amiga, jornalista, revisora, blogueira…
E dá-lhe reticências…
Às vezes sou a moça apressada na fila do banco; uma a anônima na rua Goiás ou quem salva a pátria no trabalho. No outro dia sou a menina que esqueceu algo, uma cabeça de vento. Sou quem teve saudades no meio da tarde e desabou; quem gostava de uma música por anos e mudou de ideia. Sou tudo para uns e nada para outros, mas sou bem mais do que o que falam que sou em uma palavra.
E muitos problemas do mundo estão em resumir. Olham por um ângulo, esquecem que além de sertanejo, heavy metal ou qualquer outro a pessoa é bem mais e no fundo é o que todos são: humanos. Suas descrições ocupariam cadernos inteiros e ainda caberia reticências no final para fazer jus a infinitude que cabe em cada um.
Só que a preferência é por rotular, é mais fácil, dá até menos trabalho. É importante lembrar que um rótulo indica parte do conteúdo, mas pode esconder o que há dentro – cor, textura, cheiros e no caso dos humanos ideias e sentimentos. Rotular está ligado a produtos e acredito que estamos longe de sermos coisas que possam ser colocadas nas prateleiras – ou não?
Mesmo com toda essa tendência em rotular, eu prefiro o exercício mais do que a fala rasa mostra. É bem melhor ver as pessoas amplas e descobrir o que elas têm a oferecer além do que estampam nas roupas, maquiagem e playlist, melhor do que julgá-la e achar que só vivem em um mundo. E eu tenho certeza de que nunca saberei como elas são por completo, pois ser humano é ser reticências…