Siga aquele carro
Alguns problemas tiram as pessoas do prumo, deixam-nas quase que com status de loucas, apesar de serem normais. Foi isso que aconteceu com a Márcia, mãe de três filhos, esposa, dona de casa. O dia começou diferente quando Arlindo foi tirar um dos carros da garagem e um cheiro estranho tomou conta da garagem. Se o segundo veículo pudesse ser usado a torto e a direito, tudo bem, mas era para entregas da loja de móveis deles. O jeito foi confiar na filha mais velha, de 12 anos, para cuidar dos irmãos e ir à oficina de confiança mais próxima.
Então, Arlindo combinou de ir na frente com o carro bom, um Fiorino, para guiar a esposa, em um Monza. Tudo seria resolvido em meia hora. Seria, só que ter que deixar a casa a cargo da mais velha e todos os afazeres para mais tarde tiraram Márcia do sério. Quando parou em um sinal começou a pensar em como o dia havia começado e perdeu-se do marido sem querer. Ela passou a seguir um carro idêntico ao que ela estava, trocou as bolas. No caminho que nunca tinha fim ela se perguntava porque Arlindo acelerava tanto onde tinha menos movimento. Certeza era impossível ter do que acontecia, já que nem se sonhava com celular na época.
Foi assim até o carro entrar na garagem e fechar o portão com muita pressa. Márcia estava tão atordoada que gritou:
“Arlindo, pra que este desespero?”
Só viu que tinha feito confusão quando notou que o carro que ela teria que ter perseguido não era um Fiorino, e sim um Monza, era como se ela tivesse seguido o próprio carro. Só aí ela caiu na real – o homem que ela seguiu devia estar era com medo.
Tratou logo de pedir desculpas:
“Nossa, perdão moço, eu te segui achando que estava no carro do meu marido”
“Ai, Deus, quase que sou vítima de crime passional por engano”, o homem que suava bicas respondeu.
“Não, ele só ia me guiar até a oficina do Paulão, tem nada de crime. Além das desculpas, queria um favor: posso usar o telefone da sua casa?”
Desfeita a confusão, ele decidiu ajudar Márcia. Enquanto ela procurava pela oficina do Paulão, o homem confundido com o marido tentava dar um jeito na fumaça que saía do Monza. Do outro lado da linha, Arlindo que estava desesperado ficou foi bravo demais ao descobrir que a mulher confundiu-o com outra pessoa. E Márcia ficava cada vez mais nervosa, tentou controlar-se, controlar o marido e pegou as coordenadas para chegar à oficina.
Quando chegou perto do carro viu que tinha ainda mais problemas, a fumaça e o caminho desconhecido. De temida ela passou a necessitada de socorro para o moço perseguido. Ele ficou tão preocupado que decidiu guiar Márcia até a distante oficina.
“Pode me seguir, se acontecer algo com o carro no caminho pelo menos você não estará sozinha. Só vou tomar cuidado de ir embora antes que seu marido me veja”, gentilmente sugeriu.
E foi assim, seguindo o carro que era errado a princípio que Márcia conseguiu chegar à oficina do Paulão. Para não ter ainda mais explicações para dar, ela só nunca contou ao marido que o desconhecido a salvou. Afinal, ela já tinha se encrencado demais naquele dia.