Sem troco
Sobreviver na cidade grande era uma habilidade que aquela menina estava desenvolvendo. De um interior bem pequeno, estranhou como o dinheiro ia embora rápido. Na cidadezinha em que morava, precisava-se apenas dos pés, de uma bicleta ou da confiança do comerciante para pendurar o que se comprava na caderneta.
Um belo dia, ele estava em um ponto de ônibus a espera pra ir finalmente para casa. E durante o tempo que ficou ali, escutou uma mulher dizer que faltava grana para pagar a passagem. Coisa pouca, menos de dois reais.
Ah, se fosse no vilarejo – era só conversar com o trocador ou com um passageiro conhecido pra poder pagar. Afinal, de onde ela vinha ninguém ficava sem fazer o que precisava por causa de míseros 2 reais.
Pegou a carteira e tirou umas moedinhas. Completou a passagem. A jovem senhora subiu na lotação e a mocinha continuou lá.
O tempo era suficiente para ela atravessar toda cidadezinha natal, leu, leu, leu, viu o tempo passar… Quando finalmente o ônibus apontou, a surpresa – agora era ela quem precisava de 2 reais.
Ficou acanhada de falar pra todo mundo ouvir e mais ainda de pedir ao trocador que a levasse na parte da frente. Decidiu ir a pé.
Uma hora e meia de caminhada até o destino. Nem conta em banco ela tinha ainda para sacar uns trocados no caminho e acabar de chegar. Na caminhada pensou em quanto ainda teria que aprender pra viver ali. Contou para uma amiga o episódio, ela a aconselhou de nunca ajudar desconhecidos pra não ficar sem dinheiro. Porém, ela não a ouviu. Todo dia ao sair colocava um pouco de dinheiro a mais, sabia o quanto era difícil ficar na mão por causa de 2 reais e da frieza desconfiada das pessoas.
A menina aprendeu mais a viver na cidade do que muita gente que havia nascido ali. Levou para as ruas, pontos de ônibus, lojas lotadas o altruísmo, o pensar no próximo. Ela pensava que precisava aprender com quem já estava ali, mas ela também tinha muito a ensinar.