Quando os porcos eram os cães de rua de Ibitira

Quando os porcos eram os cães de rua de Ibitira

Houve um tempo que era comum ver porcos soltos em Ibitira. Não, o pequeno distrito estava longe de ser um imenso chiqueiro, era mais próximo de um canil, já que os animais se comportavam mais ou menos como cães de rua. A diferença é que tinham donos, quando chegava o momento de virar toucinho ou lombo eram pegos e sacrificados, no mais eram muito parecidos com os cachorros.

Há quem conte que ficou sem ir na escola porque no caminho foi derrubado da bicicleta pelos porcos. Eles disparavam, igual a cães atrás de quem passava por eles. Porém, por serem mais pesados causavam mais “estragos”. Assim, um tombo por causa deles causava muitos hematomas e lesões. Era comum o povo ir para a farmácia fazer curativo, tal qual quando acontece ataque de cachorro.

Uma vez, um farmacêutico novato perguntou o que havia acontecido e ficou por entender o porquê de um porco correr atrás de gente e ainda provocar ferimentos. Só ficou convencido mesmo depois que teve que correr deles na volta para casa em disparada.

porcos criados soltos

Porcos de rua em Ibitira (Foto: postada por Érica Onória)

Uma moça que tinha parentes lá também se assustou uma vez. Entrou em uma loja, conversava tranquilamente até que um porco entrou desembestado. Só ela se assustou, morava em Divinópolis e nunca havia imaginado aquela situação. Voltou de lá embasbacada e quando um cachorro corria atrás dela ou de carros achava nada perto do que tinha visto em Ibitira.

Também era comum os porcos de rua fuçarem os postes e bater a cabeça neles até derrubá-los. O lugarejo ficava a luz de velas, lamparinas e lampiões. Nas vendinhas os donos sempre perguntavam como estava o estoque, afinal, nunca se sabia quando um porco ia deixar Ibitira sem luz, era melhor se prevenir.

Porco-galinha

Os porcos de rua também eram parecidos com galinhas. Ter horta naquele tempo era uma “peleja”, como dizem por lá. Como a tranquilidade reinava, a maioria das casas não tinha sequer muro, aí as plantas eram um prato cheio para eles. Invadiam os quintais e não deixavam um mísero pé de couve ou alface.

Aliás, eles não tinham muito critério ao selecionar a alimentação. A meninada ibitirense fazia a festa com eles na rua, eram quase como cães, queriam brincar com os bichinhos. A diferença, importante, é que, como os cachorros, uns levavam um tempo para se acostumar com os meninos. Outros, casos mais graves, achavam que os garotos pelados, também comuns nas ruas na época, vinham com um “brinde” para eles degustarem.

Era menino chorando pra todo lado quando esta confusão acontecia. No entanto, como eram figuras comuns, os próprios pais começaram a alertar os pequenos dos cuidados a se tomar com os porcos de rua. E assim, a convivência foi pacífica e até divertida até a popularização dos chiqueiros na peculiar Ibitira.

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Talita Camargos é jornalista e flerta com a literatura, procura inspiração em conversas de ônibus, flores, familiares e amigos. Idealizou o Texto do Dia e publicou nos 365 dias de 2015 neste blog como desafio pessoal.

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