Pedido de irmão
Eu contava menos de três anos quando minha mãe ficou grávida pela segunda vez. Recordo-me das conversas que tinha com Deus. Pedia que fosse um menino porque eu queria que meus pais sentissem como era ter um homenzinho em casa, já que a mocinha era eu.
Saber o sexo naquela época só quando chegasse a hora ou na base da simpatia. Um colar era balançado sobre a mão da mulher e se o movimento fosse como um pêndulo seria um rapazinho, círculo significava que uma mocinha estava a caminho. No terreiro da casa da Joaninha, uma amiga da família, o ultrassom supersticioso nos deu a resposta, minha mãe esperava um menino. A barriga pontuda e o cansaço maior do que na minha gravidez, sinais de carregar um homem no ventre, também mostravam que meu desejo seria realizado.
Mas certeza mesmo eu só teria com o parto. E chegou a hora da minha mãe no dia 6 de outubro de 1990. Ela saiu cedinho com um enxoval branco e amarelo, que denunciava a dúvida sobre o sexo. Fiquei em Ibitira ansiosa. Fiz meu pedido pela última vez como se pudesse acontecer alguma troca de urgência. Horas depois meu pai chegou com a notícia, minhas orações foram ouvidas. Fui para Pitangui, onde o Julinho nasceu, feliz. Talvez tenha sido minha viagem mais alegre para lá. Olhei para aquele careca e tinha a certeza, havia ganhado um companheiro do jeitinho que eu queria.
Foi aí que me enganei. O menino cresceu e começou a judiar de mim. Lerda, eu dizia que revidar as pauladas que ele me dava era covardia, já que eu era muito maior. Por isso mesmo quando minha mãe ficou grávida novamente não tive dúvidas, queria uma menina, minha conclusão foi de que uma mocinha seria mais delicada, meiga, companheira.
A essa altura, em 1993, já existia ultrassom e rapidinho dei graças a Deus por ele não mandar outro menino encapetado. Mas passaram-se poucos anos para eu ver que eles formaram uma duplinha do barulho, que a menina, embora com nome doce, Mel, pouco tinha amenizado o comportamento brigão e implicante comigo. Jesus, como sofri na mão daqueles dois!
Mas essas brigas, as que machucam, pelo menos, ficaram na infância. Nas duas gestações da minha mãe as preces que fiz tornaram-se bênçãos, em uma gravidez pedi um irmão, na outra uma irmã. E apesar dos pesares, atualmente só agradeço. Aprendo com as diferenças, com cada discussão e celebramos as semelhanças.
Deus ouve irmão porque sabe que o curso normal da vida os coloca por perto por mais tempo do que os pais ou qualquer amigo.