Passado e futuro sobre a mesa
Às vezes eu coloco o presente pra fora de casa. Mas não é qualquer presente. É o presente imutável. Sei que passado e futuro não estão em minhas mãos, só que são alento. O passado costuma perder o peso e mesmo o que foi ruim chega com uma roupagem diferente. Tem passado que pode chegar do jeitinho que foi, de tão bonito. Certas lembranças até que trazem saudade, lágrimas, mas não chegam a ser tristeza. O futuro, pra mim que tenho olhos otimistas, sempre parece promissor. A casa é mais bonita, eu mais feliz e preparada até para me aguentar.
Prefiro viajar por esses tempos que passaram ou não chegaram do que permanecer em um presente que não dá pra mudar e me espezinha. O clichê diz que é uma fuga inútil. Meus músculos sabem que é. Doem! Ombros, articulações, algumas vezes a cabeça e até o estômago, descobri recentemente remédios para essas dores que de tão fortes na cabeça chegam ao corpo. Porém, pra mente quando o presente bate é mesmo viajar pelo tempo que “funciona”.
Foi assim naquele domingo de despedida. Dias de adeus são um presente que nunca quero viver. Corro de conversas sobre a partida, relembro momentos bons, como cartomante tiro as cartas do futuro, creio que vou acertar. Contas eu não faço, sou de humanas, erro feio e sei que o futuro não é matemático. Os dias que virão têm mais a ver com a loucura dos sonhos do que com planejamento baseado em números ou qualquer outra lógica.
Por isso naquele domingo as fotos amareladas pelo tempo, os discos, diários e histórias passadas tentaram tomar o lugar do adeus. Meu pai as trouxe para eu ser a guardiã das nossas histórias enquanto ele está fora. Eu, que vou tanto ao passado, tive até uma ajuda a mais dessa vez. Tudo posto sobre a mesa era uma estrada gostosa e cheia de saudade que percorremos juntos. A beleza da minha mãe, mulher de traços fortes, a minha avó jovem, companheira para conversas sobre futebol com meu pai, a vitrola e as músicas passadas, muito presentes na minha vida.
É assim quando dói, o que passou e o que virá vêm a galope em minha direção. Tento expulsar o presente a todo custo. O futuro apresentasse impecável e com interrogações. Naquela noite divagamos sobre o que irá acontecer daqui a três anos, nada de falar tchau, desejar boa sorte ou qualquer outra coisa que o valha.
E quando você voltar, será que ainda estarei neste apartamento?
Vamos ter que juntar as duas mesas grandes porque já somos muitos e provavelmente vai nascer mais gente.
É claro que você não vai aguentar ser nômade, cansa também.
Sonho tudo interrogativamente. Vou ao passado, volto para um presente sem solução. Um presente que não é ruim, nem Bom, mas que dói. E isso não sou eu quem assumo o controle muitas vezes. Pode parecer babaquice e inútil, mas é assim que é. Uma viagem no tempo e a esperança de um futuro que seja um presente do qual eu não queira fugir.
Sou das humanas, mas “preparada até para me aguentar”, afirmo que o futuro é matemático! Só não vê quem não quer!!!