Papai Noel existe?
O Natal havia acabado. Eu e meus primos todos já nos preparávamos para voltar pra casa. Natal era uma festança danada, éramos umas 20 crianças – todas a espera do Papai Noel, porém em dúvida se ele era real ou nosso tio Janir fantasiado. As evidências de que era apenas fantasia aumentavam: a barba de algodão, a ausência dele a meia noite e até o aniversário no dia 26 de dezembro nos deixava desconfiados: será que ele era um primo do Papai Noel que não podia ir até Moeda? Afinal, nunca achávamos que com certeza ele era uma farsa.
A filha daquele Papai Noel – Rachel – tinha uma opinião bem definida e convenceu a todos de que era algo plausível.
– Gente, pouco importa se ele é meu pai. O legal é que brinca conosco – dizia.
– É verdade, e traz presente – concordava outra criança.
– Eu até acho que ele existe, porém mora muito longe e não consegue vir aqui – continuava Rachel.
– Eu fico muito feliz quando ele chega, um dia quase fiz xixi nas calças, será que não existe mesmo? – emendava a outra.
– É mais o bom mesmo é que a gente brinca e ganha presente, né?
– Não tem problema se é de verdade ou de mentira mesmo, nós temos nosso Papai Noel – comentava o outro.
E a discussão ia longe sem uma conclusão acerca da existência de Noel. A certeza mesmo era que o mais importante eles tinham: a presença de quem brincava com eles e dava presentes, muitos, era uma fartura só. No ano inteiro era assim, quando se reuniam comentava em meio a lista de presentes que planejavam para o Natal.
A prova dos 9
Um belo dia, uma reportagem trouxe o endereço do bom velhinho. Quem leu foi a Raquel, a filha do suspeito Papai Noel. Ela contou empolgada pros primos e disse que iria escrever a cartinha. O único problema é que tinha que ser em inglês. Ninguém em casa sabia escrever em inglês. Entretanto havia uma solução, pedir pra alguém traduzir – a xará Raquel, que até dava aula.
Lá foi a menina escrever. Além dos pedidos, colocou em xeque a pergunta que era feita em todos os Natais:
– Meu pai se fantasia por que você mora muito longe?
Só que a carta jamais teve resposta e a dúvida só teve resposta quando a inocência de criança deu lugar à esperteza de adolescente. O Natal da família ficou até muitos anos sem Papai Noel, só voltou, pois houve um hiato de muitos anos sem criança para festejá-lo. Agora é outra geração que de tão novinha ainda não se questiona se é ou não o tio.
Com certeza dentro de alguns anos a desconfiança vai surgir. E é bem provável que a dúvida também, pois só sabe o quanto o Papai Noel é legal quem tem uma família que se esforça em mandar um bom velhinho que além de presentes deixa tudo mais divertido ao brincar com todos.