Paixão de menina, paixão de adolescente e paixão de mulher
Paixão é palavra controversa e esquisita. A de Cristo foi sofrimento no calvário; no latim também é; na vida nem sempre. Entendo paixão como algo que pode ser leve e principalmente breve, quando platônica, pelo menos. O “amor” que não se concretiza continua perfeito. Na infância, eu dizia que era apaixonada por um amigo do meu pai, da idade dele, contava para todo mundo e tinha a felicidade de ele me chamar de namorada só para me ver satisfeita. Quem quiser pode até discordar que isso tenha sido paixão, mas foi, com todos os frios na barriga, a vontade de vê-lo e admiração. Só que ele foi para longe e eu fiquei só com a lembrança do homem bonitão de cabelo grande. Com ele longe das vistas, comecei a me apaixonar por um menino da escola, no “prezinho”.
Ao contrário do que eu falava para o amigo do meu pai, escondi, não falei para ninguém. Um tempo depois, rolaram paixões sem nenhum beijo, mas muitas tarde de videogame e futebol de botão. Era até uma paixão correspondida, porém nem na mão um do outro pegávamos, faltava o atrevimento necessário para um primeiro beijo, dos dois. E posso dizer que fui bem mais apaixonada por ele do que por alguns garotos que beijei.
Aliás, acho que esse negócio de me apaixonar começou a desandar quando rolava algo além de intenção. Não era necessário só admiração, olhares e palavras mais. O beijo precisava combinar, os horários e lugares também. Eu ainda precisava driblar a vigilância do meu pai e da minha mãe para continuar a viver a paixão. Tudo começou a ficar complicado. Na ausência de química ou desculpas convincentes para sair de casa, eu perdia feio para as outras meninas, a concorrência era desleal, a paixão acabava, pelo menos da parte deles. Já éramos adolescentes e não bastava ser bonita e gente boa mais, todos queriam alguém para sentar no banco escuro da praça, para levar em casa depois das festas ou das aulas. Sem perder tempo, encontrava logo outro para ficar de olho para pelo menos me distrair.
No ensino médio e faculdade, essa história de viver as paixões ficaram ainda mais complicadas. Era muita festa para uns e objetivos a perseguir para outros. As paixões eram quentes, mas terminavam tão rápido quanto tinham começado. Acho que por isso voltei a ser menina nessa época. Apaixonei-me por uns rapazes no metrô; no ônibus; na rua. Eu sabia que nunca mais os veria, só para garantir que tudo seria perfeito, assim, eles jamais conseguiriam me decepcionar. Era também uma bela distração para as inúmeras horas que eu passava no trânsito de Belo Horizonte. Era bom, era leve, não doía, como nos tempos de menina.
Acho que a gente sofre demais por pensar que tudo tem que durar. Às vezes a mulher tem é que voltar a ser menina só para se deliciar com umas paixões perfeitas, sem compromisso nem obrigação de química e a obrigação de caber nos planos de presete, futuro… Por não ser nada de concreto a mulher acha que foi tempo perdido, porém eu penso que apaixonar-se é uma forma de viver e pode ser leve, divertido, sem sofrimento. A hora que for para valer os dois vão descobrir juntos sem ao menos perceberem. Vão se perguntar: quando a gente começou a namorar? E provavelmente vai haver dúvida e depois um consenso só para cumprir o protocolo. Uma hora as paixões se encontram. Quando? São vocês que vão dizer.