O pintor com respostas de poeta
A gente tem perguntas prontas: “Como vai?” “Tá frio hoje, né?” “Que calor é esse?” “Que horas são?”. Via de regra são questionamentos para preencher a falta de intimidade. As respostas também são prontas – “Tudo bem e você?” “Nossa, frio mesmo” “Dá para fritar um ovo no asfalto” “São 4 horas”. Só que no último final de semana eu ouvi uma resposta original e gostei demais, me levou a pensar além.
Andava pelas ruas de Bichinho, perto de Tiradentes, e levei uma pergunta prontinha: “De onde você é?” Não era para preencher falta de costume como habitualmente é, eu realmente queria saber. A comunidade é pequena e a arte, além da tranquilidade, atrai muita gente para morar ali. Para mim, era interessante ter este dado. Deparei-me com gente do interior de Minas, São Paulo e um pintor que respondeu da forma mais poética e completa do mundo.
“Berzezu de onde o senhor é?”
“Sabe que nem sei mais. Sou de muitos lugares. Nasci em Jeceaba, mas sou de muitas cidades”
O pintor tem respostas de poeta.
Imediatamente eu disse que também estava sendo de muitos lugares. No fundo, todo mundo que já se mudou algumas vezes é. A cultura de cada lugar, o povo, os cheiros, leva-se um pouco de tudo que se vê, come, lê, vive, mora… As cidades entram no DNA e ficam ali, mesmo as que não gosto.
No fim, a depender do tanto que andei, posso ter um mundo em mim. Embora eu acredite que onde passei o início da vida esteja ainda mais dentro de mim, as outras cidades me tiveram, fui e sou delas. Fiz Belo Horizonte girar enquanto lá estava; assim como o parco um mês em Niterói e alguns meses que nem me lembro em Lowell nos Estados Unidos. E Ibitira nem se fala, tantos anos e retornos eternos.
Sou de todos os lugares pelos quais passei. Ficou um pouco de mim pelas ruas que andei, nas pessoas que conheci. Ainda bem que o pintor Berzezu me ajudou a ver mais do que dizem, pois a vida não é uma série de perguntas e respostas prontas, é um contínuo construir.