O dia do meu casamento não foi o mais feliz da minha vida

O dia do meu casamento não foi o mais feliz da minha vida

Eu fiz um trato comigo de fazer silêncio sobre meu aniversário de casamento. Nem demos sinais da nossa comemoração antecipada no sábado e combinei comigo de deixar passar neste ano. Porém, o Facebook me mostrou logo cedo fotos da cerimônia e de nós dois juntos ao longo desses três anos. A mão foi automaticamente no botão de compartilhar. Acho que não é nem por ter nós dois nas melhores fotos, mas por tudo que há por trás delas e principalmente por causa das pessoas que apareceram nas fotografias.

O meu casamento provou que nós não fazemos nada sozinhos, nem a dois como me enganei. É algo que envolve famílias inteiras e amigos, muitos deles. Sem as pessoas que apareceram nas fotos e muitas outras certamente eu não teria conseguido me casar. É uma história que jurei não desenterrar mais, porém vou contar mais uma vez em gratidão a quem esteve comigo especialmente naqueles dias.

Eu suspirei como se vivesse 13 de setembro de 2013 quando o Facebook bem cedo me lembrou. O melhor dia da minha vida? O mais feliz? Infelizmente dessa vez o clichê não me convenceu estar certo.

O dia do meu casamento foi muito sofrido. Eu acordei aos prantos. Dias antes havia desistido da janta que meu pai fazia questão de dar. Uma das únicas motivações que eu tinha para estar ali era a data do cartório que iria espirar. Eu teria que pagar todas as taxas de novo. Um motivo forte na época, não fui das que casou com a vida resolvida, casa montada, essas coisas todas.

Mas havia uma razão maior que essas todas para eu desistir da data. Minha mãe havia partido menos de um mês antes, em 16 de agosto. Nada do que planejei fiz, tive que remarcar a data duas vezes e me restou uma sexta 13. Por sorte gosto do número. O vestido, felizmente, tinha sido escolhido antes da minha mãe piorar. A decoração que eu faria não saiu dos planos.

Só comecei a me animar a hora que saí para arrumar o cabelo. A cabeleireira era a mesma que cuidava de mim na infância, a maquiadora eu conhecia desde o nascimento, mais nova que eu.

Meu dia de noiva se resumiu a isso: palavras de conforto de quem sabia quem eu era desde sempre. É um luxo que spa nenhum consegue oferecer. Foi o carinho delas que fez eu juntar um pouco de ânimo.

Comecei a ficar triste porque não tinha comprado nada para enfeitar o cabelo e a maquiadora me deu uma flor que parecia ter sido feita para mim, combinava muito com minha roupa.

A foto é por causa da flor, rs.

A foto é por causa da flor, rs.

Fiquei pronta e atrasei como toda noiva. O cartório estava lotado. Gente nas janelas, na porta, na rua. Sem ter chamado ninguém para fotografar depois de saber que minha amiga fotógrafa não poderia ir, cheguei e uns três fotógrafos mais um cinegrafista estavam lá: meus tios!

Eu não sei como coube tanta emoção e alegria em 15 minutos de um casamento civil. Na verdade foi mais porque quebramos os protocolos. Eu me atrasei, meus convidados discursaram. Eu só consegui falar obrigada porque um nó fechou minha garganta. Eles me olhavam como quem dizia: “tem que ser hoje e agora, não precisa adiar mais”.

Tive momentos de alegria em uma época tão triste por causa de todo mundo que estava lá. Não me esqueci em nenhum minuto da minha mãe, mas suportei a chegada das lembranças que naquele tempo só vinham com muita dor por causa dos meus convidados. Se descobri que é possível ser feliz e triste ao mesmo tempo foi no meu casamento. Pode não ter sido o dia perfeito, o mais feliz, quase nada foi do jeito que quis, porém o mais importante aconteceu.

Um casal não diz sim sozinho, há um monte de gente que faz coro junto. Um casamento não é só de dias bonitos e o nosso começou no pior momento pra mostrar que é pra um ajudar o outro a seguir em frente, que independente do que aconteça, estar casado é poder contar com o outro e com as pessoas que fazem parte da nossa vida.

dicurso-em-casamento

Um dos muitos discursos

Escritor por Talita Camargos Veja todos os textos deste autor →

Talita Camargos é jornalista e flerta com a literatura, procura inspiração em conversas de ônibus, flores, familiares e amigos. Idealizou o Texto do Dia e publicou nos 365 dias de 2015 neste blog como desafio pessoal.

Oi, o que achou do texto de hoje?

There is 1 comment for this article
  1. Arthur Moura at 11:12

    As vezes o dia do casamento não é o dia mais feliz da vida, mas é uma grande porta que se abre para dividir, seja grandes dias de felicidade, mas também de lutas juntos. Gostei do texto.

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