Nude
Fala sério. Um nudinho na vida cê já mandou. Ou recebeu! Unzinho, só. Um assim, disfarçadinho. Sexy sem ser vulgar. Já, né? Sabia!
Muito longe de ser exceção, hoje essa é a regra. Goste ou não, aprove ou não. O nude é uma realidade. Não necessariamente algo a ser louvado, não é bem esse o mérito da questão. É só uma constatação.
Seja aquela fotinha marota no Whatsapp, aquela DM escondidinha no Twitter ou uns três segundinhos no Snapchat, o nude acaba brotando – de um lado ou do outro da rede.
É claro que existem ainda aqueles que não mandam um nude jamais. Que nunca pediriam para receber um. Que veem a prática com olhares de censura e de obscenidade.
Acontece que as pessoas – a gente? – aprenderam a lidar bem com a própria nudez, ao menos para um pouquinho além quatro paredes dos próprios quartos. Agora ela é exposta, ainda que controladamente.
Ao menos em parte já existe um pressuposto de que não há que se envergonhar do próprio corpo – nem que seja para estimular algum erotismo no outro. Mas e o resto das nossas nudezes? Por mais constrangedor que possa ser, a princípio, apontar a câmera do celular para um espelho onde está nosso reflexo nu, o ato já vai até ficando habitual. Por que então é tão difícil desnudar os sentimentos?
Se das roupas a gente se livra num piscar de olhos, por que os olhos recusam-se a abrir quando a hora é demonstrar afeto – ou desinteresse? Por que livrar-se das vestes da insegurança e da dissimulação?
Pra mim é tão estranho enxergar um número crescente de pessoas que prefere a embromação à sinceridade. Embora eu entenda em parte os motivos.
Deixar-se ver pelo outro traz a mesmíssima sensação de vulnerabilidade de expor um membro nu à apreciação alheia. É como estar pelado na frente do outro, enquanto ele examina cada milímetro do seu corpo.
É um desconforto indistinto, mas ao mesmo tempo bastante claro, bastante direto. Expor-se à vulnerabilidade de se deixar ver nu – de alma – pelo outro é como olhar num espelho sem se ver.
Quem enxerga é o outro, quem contempla é o outro, quem julga é o outro. A questão é: se você consegue assimilar as imperfeições do próprio corpo e mostrá-las, o que falta pra fazer o mesmo com o coração?