Fio de cabelo branco
A um mês do meu aniversário para quase 30 encontrei um fio de cabelo branco. Fiquei observando-o por uns minutos, sem grilho, só atenta ao poder dos anos, mais veloz do que eu previa. Depois parei de frente à estante de livros e me dei conta de que a biografia do Paul Macartney, presente do aniversário passado, ainda está a minha espera. Uma pilha de outros livros também aguarda, há muito mais tempo do que a obra sobre o Beatle. Estariam cobertos de poeira não fosse eu.
Fiquei pensando em quantas coisas acontecem, quantas mudanças, quer eu queira ou não. Pisquei e já se passaram 11 meses desde os meus 28 anos. Por si só esses 11 meses já provocaram mudanças, pequenas e grandes. Lá em casa, muita flor tomou forma no jardim, outras sumiram. Nas minhas janelas, as plantinhas parecem ter chegado ontem, tive que podar de tão grandes que estavam, querendo morar fora dos vasos.
Por isso eu nunca fui de largar minha vida nas mãos do tempo. Ele dá um jeito em muitas dores, é verdade, transforma saudades, dá uma cara bonita pra elas, mas deixa poeira nos cantos, enferruja o que antes brilhava, não dá conta nem das plantas. Vida plena requer cuidado. Acho que é por isso que aos meus quase trinta eu não tenho crise de idade. Só fico mal quando vejo que não faço o suficiente para lutar pelo que quero. Isso de ter que ter, filhos, carro, salário, empreendimento, eu nunca fiz questão de seguir.
Tenho minha própria lista de desejos, que, aliás, estão ao sabor das mudanças por causa do tempo. Afinal, ele me transforma sem eu nem ver. Sou a mesma e outra, com sonhos que deixaram de fazer sentido e outros que apareceram fortes com o ímpeto de se tornarem realidade. Por isso, vou mudar sempre. Inclusive, mesmo que eu não quisesse, o tempo se encarregaria e eu desconfio que não iria gostar muito do que ele faria por conta própria.