A felicidade em menos de 80 metros quadrados
Minha casa é um mosaico de felicidades. Há pedacinhos alegres em vários cantos. Um porta-retrato em forma de máquina de escrever na mesa, ao lado um sanfoneiro, além de uma caixinha com os arcos da Lapa na mesa do escritório. No alto da minha estante um quadro da minha mãe e pai casando-se, o único da casa. Os ainda poucos livros são minha Alexandria. Eles compartilham espaço com caixas de lembrança. Nelas, fragmentos de tudo que não quero esquecer, objetos e cartas que me fazem voltar em momentos que duraram instantes e eu queria que se prolongassem, voltassem…
Ainda tenho CDs. Guardo vozes de Maíra, Celso, Tuti, Gabi, Sá, Guarabira, Chico, Osvaldo e tanta gente que canta a alma. Dá até um ar retrô, mas são meus contemporâneos. Coloco pra tocar, a sala se enche de amigos e poetas.
Minha casa é uma miniatura do que eu gosto. Criei um universo de alegria em pedacinhos, só de olhar me alegro. Trago o Rio de Janeiro para a sala com uma caixa, busco minha mãe no céu, converso com escritores, dou a mão a amigos que estão longe ou até se foram para quase sempre.
Eu chego a escutar o som da sanfona, um dos barulhos que mais me deixam feliz. Por vezes me perco(ou me acho) com o sanfoneiro em canções tocadas na minha imaginação. Ouço o barulho da máquina e dá uma vontade danada de escrever. Silencio tudo e o barulho bom da máquina sai das teclas do meu computador.
É feliz olhar para meus cantos e ver meu mundo. Acho que é por isso que sempre trago algo dos lugares que mais gosto de visitar, pode ser um simples ímã de geladeira que se transforma em condução pelas estradas da lembrança aos locais que me deram um pouco ou muita alegria.
O meu mosaico no lar também me dá vontade de sair pra ver tudo em tamanho real. Por isso, vem a inquietação de escutar música em shows, voltar às cidades que gostei, vadiar pela Lapa, tietar um autor em algum evento literário e voltar com ainda mais lembranças para os meus pedacinhos.
Esses fragmentos são assim: às vezes deixam a casa maior, é o mundo inteiro, de vez em quando faz tudo parecer pouco pra ficar na imaginação. Mas essa minha casa-mosaico sempre me faz viajar e ser mais feliz, nem que seja só de recordar o que é alegre.