Esconde-esconde do amor
Quando dois não querem, mas está escrito, o destino dá um jeito. Foi assim comigo e meu marido, o Geraldo. O Bruno, um amigo em comum, jurava que tínhamos tudo para dar certo, eu saía correndo mentalmente todas as vezes que ele tocava no assunto. Quando estávamos no mesmo lugar quase brincávamos de esconde-esconde: o Geraldo chegou a ir embora de uma festa mais cedo só porque o Bruno disse que daquele dia não passava, iria nos apresentar; eu dava um jeito de sumir. E olha que era difícil, nas festas da Badia (Martinho Campos), de onde somos, fica todo mundo bem juntinho, os espaços de eventos são pequenos. Em um esbarrão começam as primeiras conversas e logo tem-se um novo amigo de farra.
O problema foi esse: o esconde-esconde durou até que ele esbarrasse em mim, de propósito, em uma das festas de julho, época mais movimentada na região. Juro que não lembrava do rosto; ele havia ouvido falar muito de mim, mas nunca tinha me olhado de frente, fruto da timidez da qual o Bruno tinha me contado, um dos motivos que me fazia querer distância do rapaz.
Só vi que era o amigo do Bruno no momento em que disse que era o Geraldo Gustavo. Um nome mexicano desse não poderia
ter sido escolhido por duas mães do mesmo lugar para rapazes da mesma idade. Este detalhe até atrapalhou, pois antes de saber quem era ele achei-o simpático, depois comecei a pensar, já que as qualidades que o amigo cupido usava para descrevê-lo soavam como defeitos para mim. Só que algo me dizia que poderia dar certo pelo menos naquela noite. Não tardou ele contar que fazia aniversário um dia depois de mim, 18 de junho. Achei coincidência, tentei pensar que era, pelo menos, cheguei a ter medo… Besteira? Vai me dizer que se apaixonar não é um dos maiores perigos da vida?
Procurei outros cantos, distrações… Conversava com minha prima e melhor amiga que praticamente só ouvia, sem dar conselhos. A decisão só cabia a mim, mas antes de ter tempo de pensar o vi perto de mim novamente. Teve muito jeito não e durante o beijo eu pensava – só por hoje não há de me fazer mal. Quando ele confessou a timidez eu falei em tom de brincadeira séria: “Nem vem então que vai dar errado” e ele disse que comigo seria diferente.
No outro dia, nem que eu não quisesse teria como escapar de um encontro, era a data da maior festa de Martinho Campos. Eu fiquei angustiada, queria ficar com minha turma, com medo do moço tímido e tive meu plano fracassado porque ele quis mostrar logo no início que comigo seria diferente, como prometido. Gostei de pagar língua, fiquei bem mais feliz do que se tivesse falado que eu tinha razão, havia quebrado a cara de novo.
A gente não sabe bem quem é bom para viver ao lado como companheiro, mas a vida dá um jeitinho de mostrar e o coração de confirmar as escolhas afetivas.
E ele fez que eu visse que ele era diferente ao longo do namoro todo. Quando nos conhecemos estava sem celular e morávamos em cidades diferentes – eu em BH e ele em Divinópolis. A solução foi me mandar e-mail todo santo dia até que eu arrumasse um telefone.
E a nossa vida a dois seguiu normal, com a saudade costumeira de um namoro à distância, eliminada apenas quando me mudei para Divinópolis, o que eu achava que nunca aconteceria. Nossos planos é que ele fosse para a Capital, mas como o destino sempre dá seu jeito, o contrário aconteceu. E como foi bom. Depois que me mudei não tardamos a querer ficar mais perto, casamos bem antes do que prevíamos.
Embora quase nada tenha acontecido conforme pensamos, fomos surpreendidos pela vida, tanto pelo lado bom quanto pelo ruim. Sabe aquela fase de recém-casados super felizes? Para mim não foi bem assim, já que havia acabado de perder minha mãe. A doença dela me levou a adiar a data do casamento uma vez e esperar que ela saísse do hospital. Eu conhecia, na época, uma tristeza diferente de todas as outras, porém estava decidida a continuar e dar um jeito de ficar bem. Comecei na tristeza permeada pelas alegrias do casamento, porém, é certo que tê-lo tão pertinho em um momento tão difícil foi mais uma das artimanhas do destino para que eu pudesse ficar bem.