Mais bonito que o céu de brigadeiro
Vi um golfinho, os cabelos encaracolados da minha mãe e lábios que sorriam para mim até que os ventos mudaram a nuvem de lugar. Depois de uns 3o minutos de observação dos desenhos no céu, veio o sol e deixou tudo azul. Aquele imenso quadro acima de mim ficou sem graça, como se fosse uma lousa sem nenhuma letra, um quadro a espera de cores. Passou uma mulher por mim e disse: olha só que maravilha deste céu de brigadeiro! Eu olhei para ela triste e quase que a senhora veio me perguntar o que havia acontecido.
Gosto de ver a natureza se movimentar quando tiro uns minutos para observá-la. Eu parada e ela mostra que a vida não tem pausa, por mais que eu insista em não fazer nada, na espera de uns minutos para voltar aos meus afazeres, ela continua, comigo ou “sem migo”.
Também não gosto do que é matemático. O céu de brigadeiro é um lindo céu azul e ponto, como dois e dois são quatro, exato, sem abstração. E na atual conjuntura, convenhamos, um céu com nuvens de chumbo, prestes a molhar a terra, me faz sorrir mais do que o azul.
Até mesmo na praia é bom que o branco pinte o azul. Sou capaz de ficar uma hora inteira na areia só para advinhar, pensar, viajar nas nuvens. Céu de brigadeiro também é privilégio da mais alta patente da força aérea, os brigadeiros só voam se as condições forem perfeitas. Já o céu carregado é de todos e ensina muito.
Um céu carregado de nuvens ou de chuva é também carregado de possibilidades para quem sabe olhar além do óbvio. Eu prefiro assim, menos previsibilidade, mais possibilidades. Também aproveito o azul, mas crio asas em um céu que brigadeiro nenhum se atreveria a sobrevoar.