Laços delicados e fortes de amizade
Ao ver as minhas fotos do ensino médio tenho duas reações: dou boas gargalhadas e me estranho. Não que eu tenha vergonha do meu passado hippie, até conservo algumas preferências ripongas e sim porque é inevitável não estranhar um cabelo que eu fazia questão de deixar bem armado. Eu adorava contrariar a modinha das madeixas chapadas, dormia com os fios molhados para conseguir um efeito à la Janis Joplin. O que fazia minha cabeça era andar à vontade, bem à vontade mesmo, com sapatos de sola de pneu que duravam pouco mais de um mês.
E a riponguisse aflorou mesmo foi a partir do primeiro ano do segundo grau. Descobri que eu não estava sozinha. Entre nerds e patricinhas algumas meninas do Integral se pareciam comigo. Não por acaso nos tornamos um grupo. Nosso uniforme ia além da blusa verde e branca ou cinza e verde, os penduricalhos com bastante sementes eram obrigatórios para nós. Nos eventos culturais da cidade, principalmente quando tinha show do “Virgílio mais nóis”, batinha, blusa indiana, saião ou tudo isso misturado.
Eu sempre rascunhava um poema nos minutos vagos ou quando a aula estava pesada demais. É claro que as primeiras a lerem eram as meninas paz e amor do colégio. Tenho os versos até hoje, em uma antiga agenda. Nela também estão as letras das músicas que a Gabi fazia questão de escrever nas folhas em que deveriam estar detalhados os meus afazeres. Por falar em música, ganhei uma canção especialmente composta para mim e em inglês. Super tendência, olha que na época a Gabi e a Maíra nem sonhavam que Malú Magalhães iria compor em língua estranha. Na verdade, era uma paródia de “Oh Carol”, em embromês com o título “Oh Talit’s” – lê-se Ou Telitis. Talit’s ,inclusive, é meu apelido desde então. Só não me pergunte o que veio primeiro, a música ou o codinome.
Outro fato interessante daqueles anos é que cheguei até a fazer pulseiras de macramê. Aprendi a fazer laços fortes com linha, nós tão fortes quanto os de marinheiro. Foram os hippies do quarteirão fechado da São Paulo, a Praça Sete divinopolitana, que me ensinaram. Também escutava Ventania, acampava até com chuva, fazia longas caminhadas para explorar locais nos quais eu acreditava que pouca gente tinha ido. Nessas andanças conheci uma das pessoas mais legais, o Quexinho – hippie, artesão, ator e músico bem conhecido de Divinópolis. Só que ele continuou a caminhar por esse mundo e há tempos não o vejo.
A Luisy também começou a fazer trampos, como os hippies denominam os artesanatos. Eu até copiei um modelo de brinco que a Lú produziu, contei para ela ontem e a minha amiga chorou de rir. Recordamos várias outras histórias desse tempo, o que nos fez muito bem. Atualmente, não há livros de chamada que garantem encontros diários com as minhas ripongas preferidas, mas quando as vejo a sensação é de que somos diferentes, mas que o ponto da amizade não desata, embora a trama tenha sido feita de uma sensível e delicada linha.