Quando a dor não dorme
Meu sono não se decide nos momentos delicados. Ora ele é escasso, ora transborda. Confesso que prefiro quando dormir é fuga. Se tenho essa sorte, consigo me manter alerta estritamente pelo tempo necessário para minhas tarefas. Nos primeiros minutos que recosto, Morfeu me abençoa. Até que eu abra os olhos, aparentemente, reina a paz.
Do contrário, sofro madrugada adentro. E a dor se agiganta na insônia. A madrugada mostra as faces mais assustadoras do sofrimento.
Junto a todos os ruídos que o silêncio desvela, miudezas da dor aparecem. Chegam como se nada fossem. De repente, tomam a mente. Em mim, o que sinto na alma vai para o corpo. Quando percebo, os ombros, a lombar, as articulações estão como o espírito.
Leio, assisto a filmes, mas acabo de frente para a tela quando minha dor decide não dormir. O alívio vem na ponta dos dedos, a cada palavra… É o que faço agora. Essa é uma noite em claro, de frente para os quiprocós humanos. Vivo me questionando porque me expor tanto assim, contando essas histórias tão minhas. Por isso, fiquei tanto tempo em silêncio.
Havia uma dose de falta de tempo. Mas o principal fator da ausência de produções autorais, era meu conflito em me mostrar profundamente. Nesse hiato, dediquei-me ao “Máximo da Vida”, biografia que tive a honra de escrever. Foi um pedido da família Elias Máximo. Também tenho, na minha gaveta digital, outros fragmentos que já estão ganhando corpo depois que resolvi o conflito de ser um livro aberto.
Há um certo incômodo em mostrar o que aconteceu comigo. Porém, a palavra é minha forma de cura. Ressignifico vários episódios, entendo melhor o que a vida fez comigo. Só a escrita consegue aplacar as cruéis noites de insônia. E há em mim um ímpeto de tornar públicas as histórias. É mais forte até que meu desejo de ser reservada. Fica ainda mais necessário mostrar quando outras pessoas dizem terem se visto refletidas em cada parágrafo.
Não tem a ver com vaidade, mas com uma necessidade inexplicável. Estanco hemorragias assim, sendo verborrágica.