Impossível mentir para crianças
Bobo é quem pensa que engana um pequeno. Até quando eles brincam de faz de conta sabem quem são, é impossível mentir para crianças. A gente é que pensa que os convence da existência do Papai Noel. Penso que quando falamos que tem que ser bonzinho para ganhar presente no final do ano, eles fingem acreditar no papo do bom velhinho para não nos decepcionarem. No fundo, sabem que se comportarem-se bem, tios, pais e padrinhos ficarão mais felizes em o presentearem.
Só que tem menino que faz questão de mostrar que sabe das coisas. Um priminho pegou o microfone da festa de Natal e disse uma vez do alto dos seus menos de um metro e vinte:
– Eu tenho uma revelação a fazer: o Papai Noel não existe, o Papai Noel é meu vô.
E era mesmo, desde a minha infância até hoje é ele o papai Noel oficial da família.
Daí, nós, adultos, muito espertos, tentamos ganhá-los neste jogo. Ontem meu afilhado começou a lamber a mãe dele, ela me disse que ele tinha virado um cachorrinho. Lá fui eu com o poderoso argumento de que era para parar porque ele era o homem-aranha e não um cachorro.
O garotinho me deu a volta:
– Não sou cachorro nem homem-aranha, eu sou menino – disse como quem me revelasse algo que eu não soubesse.
Acho que ficamos tão embasbacados com o poder dos pequenos que somos nós que nos perdemos no reino da fantasia. A meninada embarca nestas histórias, mas sabe bem até onde vai o real.
Falar de pós mágicos, histórias fantásticas, é um bom jeito de ensinar, mostrar que o lado bonito e feio do ser humano, mas quando eles encontram a realidade nua e crua sabem dizer o que tinha na história de real.