Fome de pão de queijo
Era uma tarde chuvosa que não me dava o direito de ficar em casa. Eu tinha duas entrevistas e uma delas foi remarcada para meia hora depois – um convite a sentar na cafeteria, aproveitar o tempo para adiantar matéria e comer algo com um café quentinho. Pedi um pão de queijo, o único que estava exposto. Como boa mineira, pedi mais um.
– Moça, acabou o pão de queijo – tem empadinha de queijo, casulo de queijo, pode ser?
Só que eu não estava com fome e sim vontade. E vontade de pão de queijo para mineiro é algo que não passa, chega a ser fome. É como se tivesse um espaço no estômago que só aceita o pão de queijo. Ele é insubstituível. Eu poderia comer a melhor empada ou casulo que acharia ruim porque a vontade persistiria.
Fiquei por lá com meu café solitário. Entrou um rapaz e fez o mesmo pedido que eu:
– Moça, tem pão de queijo?
– Não. Tem empada de queijo, casulo de queijo, mas pão de queijo acabou.
– Ah, pode ser só um café mesmo então.
O cara sentou-se com uma xícara de café ao meu lado e tinha cara de quem esperava a chuva passar. Ficou uns quarenta minutos e não pediu nada além de café.
A fome era mesmo de pão de queijo, que nem a minha. E para quem diz que foi uma coincidência, que mineiro exagera quando fala da quitanda mais famosa de Minas, se engana. Entrou uma senhora e fez a mesma pergunta, ouviu as mesmas respostas. Só que ela, em vez de se contentar com um café enfrentou a chuva torrencial. Imagino que entrou em outros lugares procurando o famigerado.
Pão de queijo quentinho 🙂
Eu esperei a minha hora. Aliás, aproveitei o intervalo para trabalhar. Fui mais sortuda do que os que vieram depois, comi o último pão de queijo, matei parcialmente minha vontade. E tive mais sorte ainda na entrevista, além da boa história que ouvi, a entrevistada tinha acabado de assar pães de queijo. Acabados de sair do forno são ainda mais gostosos, saciam mesmo uma fome que só mineiro conhece, mais comum em dias de chuva – a fome de pão de queijo.