Faz de conta crescidos
O mundo dos adultos está sempre em desencanto. Um dia o grandinho leva fora, perde o emprego, a mãe, o pai, dinheiro e só não perde a graça porque mesmo crescido sobra espaço para a fantasia. Brincar com a própria vida dilui tensões, desfaz até mesmo aqueles nódulos que pagaríamos um bom massagista. Uns levam o método tão a rigor que decidem ser palhaços, chargistas ou um simples “zoeiro”.
Outros pagam caro para frequentar o que é considerado o parque de diversão dos grandes, Las Vegas. Tem também quem sonhe em conhecer a fábrica da Heineken, pilotar supercarros. São brincadeiras com um preço, aí é que as piadinhas funcionam, e, para ser mais atual, os eventos fictícios no Facebook.
No início, confesso, achei besta demais para confirmar alguma “presença”. Depois achei mais besta ainda e por isso mesmo embarquei, já estou com a agenda lotada, tenho até compromisso no mesmo dia, horário… Mas o que que tem, né? Neste faz de conta adulto posso tudo, principalmente por não precisar pagar nada. Eu posso até me reunir com 83 mil pessoas para a Festa do suco de limão que parece tamarindo e tem gosto de groselha. E por que não entender da arte de dizer adeus ir para o rancho fundo. Eu vou, uai, pelo menos no meu pensamento e de outros milhares.
Aí podem me perguntar: Resolve alguma coisa? Sim! Rir não é remédio? Abstrair tira um pouco das minhas neuras. O problema é que outro ditado que diz que “só dói quando eu rio”. É isto que acontece quando confirmo presença para discutir que país é este, o resultado de alguma eleição e um manifesto para devolverem livros emprestados há anos. Eu rio, mas um riso doído, lá no fundo. Como são situações difíceis, muitas vezes fora do meu alcance, ainda é melhor do que chorar. Neste parágrafo juntei inúmeros clichês, e muitas verdade também.
Eu vou rir da vida, vou rir de mim e até do que dói enquanto der, é assim que a vida parece melhor, mesmo que o riso seja irônico e o problema sem solução.