Danceteria Tip Top da Badia: bem além da Ave Maria

Danceteria Tip Top da Badia: bem além da Ave Maria

Toda cidade, por menor que seja, precisa de um ponto de encontro onde a música e a dança ditem o tom da diversão. A danceteria Tip Top, em Martinho Campos, em Minas Gerais, surgiu da vontade de arrastar o pé até o dia amanhecer. Antes de ser uma boate na cidade, era um barzinho do Liga, Ari e Nilson – o Stop, onde hoje é o Posto Moderna.

Mas lá ficou movimentado por demais quando as casas populares na Cojan começaram a ser construídas em 1975. Os trabalhadores contratados especialmente para o serviço, muitos de fora, lotavam o local e começavam a agitar a pista de dança sempre com a música do Erasmo Carlos “Pega na Mentira”, começava a história da Danceteria Tip Top.

E deu muito certo, até demais. O problema (ou seria solução?) é que os martinho-campenses são os mais animados que têm, desconhecem a hora de parar. Todo dia o Liga ficava quebradinho, pois o dia raiava e os frequentadores da Tip Top queriam mais e mais. Ele adorava ser dono de um espaço para a diversão, o principal do lugar. Porém, era preciso mostrar que tudo tinha a hora de acabar. Ele pensou demais, muito mesmo, não podia ser mal educado com quem lhe dava o pão de cada dia.

E depois de rezar muitas Aves-Maria, como um milagre a solução apareceu. Por que não tocar o hino da sua santa de devoção? Era à ela a quem tinha recorrido e todos os dias pedia por um bom dia, boa noite e madrugada, já que tinha atividade em todos esses turnos. Era uma Ave Maria que rezava ao abrir e fechar a Tip Top. Era também uma forma de agradecer pela boa noite de trabalho e por mais um dia que chegava.

Eureca! Estava resolvido, todo fim de noite a música avisaria que estava na hora de pegar o rumo de casa, ou da padaria, já que é tradição em Martinho Campos tomar café na Pão Real depois da noitada. Lá foi ele testar o aviso dos céus. Funcionou! No início o povo estranhou, entretanto entendeu o recado e como na Badia tem muito católico ninguém discutiu.

Com o “toque de recolher” divino, Liga só tinha que se preocupar com garantir que as músicas de maior sucesso tocassem. Na maioria das vezes era som mecânico, mas Ronaldo & Rafael, Nivaldo Braga, Trio Som Brasil, Astronautas de Mármores e tantos outros tocaram até falar chega lá também. Ou melhor, até que chegasse a hora da “Ave Maria”.

A Tip Top ainda marcou os carnavais de muitas crianças, como eu, que mal podiam esperar pelas matinês, além de desfiles e tantos outros eventos para toda família e não só para o jovem. Tinha Carnaval pra adulto também (vide foto). Liga soube diversificar, oferecer diversão por todo mundo, motivo, com certeza de a danceteria ter funcionado até 2006 e de uns anos para cá sempre ter uma festa para relembrar as mais de três décadas de diversão por lá. Graças a Deus e à Ave Maria!

12191635_1132138396831272_1623956852070480120_n

Foto cedida pela Consuelo Freitas, filha do Liga, que me ajudou a contar a história da inesquecível Tip Top.

remember tip top

Uma das edições da Remember Tip Top, olha as plaquinhas nostálgicas da Ave Maria

Escritor por Talita Camargos Veja todos os textos deste autor →

Talita Camargos é jornalista e flerta com a literatura, procura inspiração em conversas de ônibus, flores, familiares e amigos. Idealizou o Texto do Dia e publicou nos 365 dias de 2015 neste blog como desafio pessoal.

Oi, o que achou do texto de hoje?

Você tem 2 comentários

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *