(Des)conectada
A menina viajou a contragosto para praias na Serra do Mar, viveu em uma casa no meio de Mata Atlântica preservada, sem conexão com a internet, telefone e com muita umidade por causa da floresta por mais de uma semana. Acompanhava os pais, amantes da natureza e das simplicidades. Na cidade dela era bem diferente, umidade só mesmo dentro do quarto, com a ajuda de uma máquina. Ar fresco também, só quando condicionado ou com a brisa do ventilador, sem maresia, cheiro…
O pior para ela foi quando o secador de cabelos queimou. Os fios ficaram desgrenhados por causa da alta umidade. Agora nem posar mais para as fotos no local exótico, mas que serviria pelo menos como belo cenário e que receberia vários likes ela podia. Como se deixar fotografar com aquele cabelo? O jeito foi usar o Iphone como máquina para não entrar em abstinência de tecnologia sem aparecer em nenhuma foto. E no modo avião, a menina procurava os melhores ângulos da floresta para postar depois no Instagram e outras redes sociais.
Beijinhos e bananeiras que nasciam sem serem semeados pela mão humana, macacos barulhentos, cachoeiras, casinhas coloridas, tudo foi enquadrado. Depois era só escolher o filtro para deixar a fotografia ainda mais descolada e atrair olhares. Na cidade, claro, com sinal de wi-fi.
Nas andanças fotográficas, entre um clique e outro, a menina sempre lembrava de olhar o sinal do 3G, desconectado, como regra. E numa dessas olhadelhas quase que perdeu um beija-flor em busca de néctar na flor (até ali desconhecida) da bananeira.
A cena ficou no álbum momentos do telefone e de lá voou para a rede. Foi a mais curtida da viagem. Depois do beija-flor, a menina ficou mais atenta ao que acontecia em volta e menos preocupada com o 3G. Por gosto? Não! Só para fazer parecer com cliques que a semana tinha sido legal para quem a seguia.