Comemorei tantos desaniversários que esqueci minha idade
Às vezes me esqueço da idade que tenho e digo, claro, números a menos para quem pergunta. 5, 10 minutos depois dou conta do erro e se tiver sido uma pergunta daquelas só para ocupar o espaço entre alguém com quem tenho pouco contato nem faço questão de desfazer a minha confusão. De uns tempos para cá parei de fazer planos baseados na minha idade. Na minha infância era tudo minimamente calculado e pelas contas antigas hoje eu estaria em um apartamento sozinha, com uma biblioteca gigante e não necessariamente teria um namorado, marido estava fora dos planos para os meus 28 anos, definitivamente. Divinópolis seria uma cidade para visitar e talvez morar quando me aposentasse. Meu cabelo ainda seria maior do que é e quando eu trintasse cortaria pouco abaixo da altura dos ombros. Também teria feito uma viagem por ano depois dos 25.
Tudo arquitetado de acordo com o que eu pensava que me deixaria feliz e faria de mim uma pessoa bem-sucedida, pois assim viviam, nos filmes e novelas, as mulheres que eu sonhava ser.
A confusão estava feita. Quase nenhum dos meus planos certos para os 25, 26, 27, 28, 29 e 30 anos foram alcançados. Meus castelos de cartas desmoronaram com o leve sopro do que há de ser, fiquei sem saber quantos anos tenho. O corte de cabelo é o que pensava que teria aos 30, vivo um casamento que sairia depois dos 35 e na cidade da aposentadoria. O sonho do apartamento solitário não aconteceu, a biblioteca gigante se resume a uma estante com bons livros e as viagens anuais nem foram marcadas por causa da quantidade de trabalho que não deu trégua.
Parei de calcular a vida em anos, passei a ver o que ela me possibilitava a buscar. Faço planos sem obrigação de acontecerem com um dia e hora marcada, com espaço para os encontros e desencontros. Nessa história de parar de cronometrar de acordo com o que as revistas mostram como certo ganhei muito: a chance de me reinventar quando o improvável acontece, principalmente. Ao fazer um balanço desses quase 30 anos o que mais fiz foi aprender a fazer meus sonhos saírem de um lugar e irem para outro, sem me deixar. O que saiu foi o que era um padrão dos outros, o que eu queria mesmo tem acontecido, embora em lugares e tempos que eu nunca iria imaginar serem os certos para a vida dar certo.
Não acho que tudo tem que ser colocado nas mãos do destino, é preciso pegar o leme e direcionar tudo, mas os ventos frequentemente sopram mais forte e é hora de observar para onde eles apontam, em vez de brigar com a imponderável lei do mundo. Paro, observo e recalculo a rota – no final o destino é sempre o melhor que poderia existir. Com a licença de Lewis Carroll, tenho comemorado mais desaniversários do que aniversários, pois já passei 17s de junhos tenebrosos, tendo que recalcular a rota, sob fortes ventos e sextas 13 dignas das maiores celebrações. O que quero são motivos para comemorar os dois, com chás feitos os de Alice.