Ciranda da inimizade amorosa
Eduardo foi o primeiro namorado de Catarina. Eles tinham 15 anos, estudavam na mesma sala, tinham os mesmos amigos, moravam a poucos passos de distância um do outro. Ele gostava de história, geografia, português – ela curtia mais o que lia nos livros sobre astronomia, culinária, mas nunca perdia média. Formavam um par nas festas juninas, formaturas, trabalho de escola. Eram loiros, dos olhos castanhos, ele alto, ela com a estatura normal para uma mocinha – 1,67. Quem não sabia do namoro, pensava que os dois eram irmãos. Formavam um casal bonito. Porém, o final do terceiro ano os separou. Eduardo foi para Portugal estudar, Catarina decidiu dar um tempo para pensar no que queria para a vida inteira.
No início, se falavam por skype, juravam amor eterno, lua de mel na Europa até que Eduardo conheceu uma espanhola na universidade e sentiu o mesmo frio na barriga de quando viu Catarina pela primeira vez. Terminou o namoro pela internet. Catarina chorou durante algumas semanas. Parou quando descobriu as baladas que podia ir com os 18 anos completados. A moça dedicou-se às noitadas, prazeres da juventude até cansar.
Decidiu fazer gastronomia e foi pro Sul do país, Itajaí. Lá conciliava bem as festas com os estudos e dizia querer ficar solteira até se formar. O plano foi por água abaixo quando conheceu Rafael, um rapaz também loiro, entretanto com um rosto bem diferente do dela ao contrário de Eduardo com quem ainda falava, tornaram-se irmãos de vida. Rafael descobriu o namoro adolescente quando foi à casa da moça, nos álbuns em que Eduardo aparecia em todas as festas. Chegou a pensar que eram primos, certeza quebrada por um beijo no baile de formatura do terceiro ano.
Ficou com ciúmes. Doeu menos ao descobrir que Eduardo foi pra Europa. Voltou a doer quando lembrou que toda semana os dois se falavam por skype como irmãos. Ficou bravo, proibiu Catarina de conversar com ele e outros tantos amigos da época do colégio. Para ele, eram todos perigosos. A moça acatou. Sentiu falta do amigo, antes namorado, mas entendeu. Ficou com Rafael até o final da faculdade, voltou para a Cidade Natal, abriu um bistrô. Falava com Rafa por telefone, pela internet e o via de vez em quando no Sul e nas viagens que eles combinavam. Mas um dia Catarina conheceu Guilherme que a fez pensar que gostava de Rafael como amigo, irmão, a paixão do namoro havia terminado. Acabou o romance, pegou um voo para a cidade dele para conversar. Tornaram-se amigos depois de uns seis meses do término, o lance com Guilherme deu errado, ficaram apenas amigos, mas ela conheceu Cauã – um moreno de voz grave e 1,80m.
Apaixonou-se! Começaram a namorar. Chegaram a sair com Guilherme e Rafael algumas vezes até descobrir que Gui foi uma paixonite e Rafa namorado de cinco anos de duração. Ficou desconfiado dos outros amigos homens dela, como podia ser amigo de ex ou de outros homens? Não a proibiu de falar com eles, mas o olhar torto todas as vezes que se encontravam os afastaram de Catarina.
Eles chegaram a ficar noivos. Catarina tinha certeza de que se casaria com Cauã. Romperam três meses antes da data marcada. Eduardo voltou da Europa para rever os pais com a esposa espanhola e um bebê de dois meses nos braços.
Ele a visitou e a mulher de Eduardo ouviu alguém dizer que os dois foram namorados na adolescência, daqueles grudentos, engoliu a seco, fingiu que não escutou nada. Rafa foi para a Noruega e casou-se com Tiago, nem ele sabia ser gay até então, descobriu lá, Catarina se assustou. Gui aos poucos voltou a falar com Catarina, mas nada como antes. Cauã comprou uma fazenda, arrumou uma mulher na cidade e a levou para cuidar de tudo lá.
Catarina hoje tem 42 anos e a sensação de menos amigos do que gostaria. Chegou a morar com um cara por um mês, deu certo não. Eduardo voltou pra Europa e só a procura de ano em ano, quando visita os pais no Natal. Não tinha contato com os exs que tornaram-se amigos e depois ex-amigos e amigos de novo. Estava sozinha, sem namorado e com poucos amigos. Começou a pensar se as histórias de amor realmente valeram a pena ao custar tantos amigos.