Chorar nem sempre dói
Ver alguém chorar é desesperador. Chorar não, lágrimas consolam. Quando choro só quero desaguar um pouco do que dói, a raiva, a indignação… Quando vejo alguém chorar fico em pratos também ou me desespero. Um desespero labiríntico, as palavras certas e consoladoras se escondem, fico sem saída. Quando choro junto só preciso calar, dar um abraço e deixar que os olhos deságuem, especialmente se o motivo for daqueles que nunca irão embora, se instalem na vida para sempre, como doença ainda sem cura, porém com controle, com alguns tipos de remédios que tornem tudo mais suportável e compreensível.
Chorar o choro do outro é um desses remédios para dores crônicas e passageiras – um dia vai parar. É dizer que a dor também é minha, que dói em mim. É sentir o coração despedaçar quando a vida cobra alto preço de um amigo, um irmão. E como dói! Ver alguém que amo sofrer é querer carregar uma cruz intransferível, uma dor que só será compreendida quando ele encontrar o caminho. E embora a solução esteja em outras mãos, o fardo parece mais leve quando a gente chora junto.
Desfazer-me em lágrimas é me refazer, ganhar forças mesmo que o choro tenha durado tempo demais. Tempo suficiente para eu solucionar uma crise, tomar alguma providência, levar a vida adiante apesar dos pesares. Uns dizem ser inútil, certo mesmo é ir a luta. Mas eu não acho que ninguém consiga vencer duras batalhas sem desabafar, desabar para se recompor, desabar pra se reconstruir.
Lágrimas são rios de emoções que devem seguir seu curso, como se corressem para o mar e lá se misturassem com outros choros, de outros olhos. Quando alguém me ver chorar eu peço o silêncio, um abraço, nem precisa verter lágrimas comigo, mas respeite o meu pranto, é me refazer para sorrir.