Escrever: cérebro e alma na ponta dos dedos
Desconfio que antes de pegar na caneta ou colocar as mãos no teclado mal raciocino ou sinto. A mente e a alma ficam loucos até que me sento com um caderninho nas mãos ou abro o word. Google Drive para ser mais honesta. E é pouco a pouco, de letra em letra que consigo colocar ordem no que a cabeça e a alma tendem a bagunçar, ou não, pois nem precisa ser sobre um tormento.
Pode ser algo que estou careca de saber, uma explicação simples que preciso dar para um cliente. Só me convenço que sei mesmo quando abro meu bloco de notas e coloco o passo a passo ali. A escrita me tira do piloto automático, me faz pensar no que faço em um minuto sem nem ter consciência, é um exercício quase meditativo, de plenitude.
Quando tenho algo para conversar com alguém, por mais simples que seja, o word ganha status de caixa preta. Acho que meu drive guarda mais informações sobre mim do que meu melhor amigo. É a garantia de não deixar a emoção me trair, o furor do momento me levar e a memória vacilar. Porque a escrita é fiel, não deixa nada escapar ou fugir por mais tentador que seja.
Se é a alma que vai para o papel é porque a dor ou a alegria vão procurar onde é que lhe cabem. Escrever pra mim é digerir o que me aconteceu e é difícil de engolir. A caneta também fecha ciclos, coloca pontos finais em histórias tristes e até felizes. É catalisadora do tempo de absorver o que houve e me transforma no que tenho que ser logo, sem o passado me puxar para traz.
Escrever é meu sustento. É meu pão, por isso do verbo faço carne e não poderia trabalhar com outra coisa que não a palavra. Se escrevo muito durante o mês para quem precisa, a mesa é mais farta, se menos, tenho que enxugar um pouco as compras. E nunca me faltaram palavras pra fechar a conta, deixar a mesa colorida e a alma leve.